De Goiânia
Fotos: Marcus Turíbio
O segundo dia do Festival Vaca Amarela foi surpeendente, Goiânia tem que perder o estigma apenas do rock e se tornar a capital da música. Pois em um dia que mistura Overfuzz com Flora Matos e faz esses dois públicos combinarem você é realmente um mestre. Chegamos logo cedo no espaço Jaó, que é um clube lindo e que nele consta o Jaó Music Hall com capacidade para umas 10.000 pessoas.
Nos arriscamos a assistir as primeiras bandas, que em horários ingratos tem a oportunidade de mostrar o seu som para o pessoal da limpeza e da segurança, mas quando cheguei a beira do palco dos locais do Components não era isso que via, mas um pequeno grupo de 20 ou 30 fãs gritando e pulando com os rapazes que mal esboçam uma barba mas que deram uma aulinha de indie rock, cantando em inglês como a maioria das bandas locais, mas mostrando o frescor de você ainda ter menos de 20 anos de idade e já saber onde quer chegar.
Após essa surpresa trocamos alguma ideia com os rapazes e fomos conferir um pouco da praça de alimentação do festival, que agora estava completa (no dia anterior algumas barracas estavam sendo montadas no começo do festival) e vazia, comemos um ótimo espetinho do Edweiss, um restaurante ótimo lá de Goiânia, e um lanche suculento do Tio Bákinas. A brincadeira saiu menos de R$15,00 e eu estou até agora salivando com o que comi.
O outro show que assisti foi da Mc Tati Ribeiro, que levou seu público e animou a galera que iria curtir um dia com outras atrações de rap. Já na sequência, quem roubou minha atenção foi o Mad Matters, que inclusive lançamos um clipe aqui no RockInPress. Metal clássico de cabeludo é algo que Goiás sabe muito bem fazer.
O ska, ou reggae com rap do Boca Seca deixou todo mundo com sede de quero mais, já era por volta das 20 horas e o público começava a realmente tomar forma, quando ouvimos de alguém da organização “esse pessoal do Boca Seca é bem foda, arrastam uma galera” o que já era óbvio ao ver a concentração de público cantando o som.
Quando achei que ia ter um descanso, BANG! O festival apresenta Hell Oh! do Rio de Janeiro um rock que em alguns momentos pode lembrar os bons tempos do The Kooks ou algo mais rock como o Jake Bugg, mas que me tirou de onde eu estava para chegar mais próximo do palco e olhar de perto. O show de apenas 30 minutos é bom por isso: quero mais.
O The Anders e o Beavers se apresentaram antes de um nome de peso no cenário independente hoje, o Far From Alaska. A banda tinha a missão de animar um público que já havia assistido o show deles recentemente, no Festival Bananada 2014 (veja nossa cobertura). E isso aconteceu, mas gradativamente, talvez porque o público estava justamente observando-os com uma lupa para saber se ogrupo de Natal/RN era realmente isso tudo que já vimos anteriormente. E é. Emilly Barreto e seus companheiros são únicos, estridentes e ao mesmo tempo juvenis – no bom sentido da coisa – dialogando muito bem com o público entre 18 e 25 anos.
Dizem que quem vem do cerrado é calango, e o Calango Nego veio e mostrou porque o rap está em todo o lugar, causando comoção no público e levando grande parte dele a abrir a boca e repetir as letras eles apresentaram um hip hop que hora flertava com o reggae e com o romantismo, bonito de se ver.
Acredito que esse momento do festival deveria ser até destacado como um anexo. Para quem achou que atrações totalmente regionais como a do Passarinho no Cerrado não iriam combinar com o line-up, assim como nós, estava totalmente enganado. Como uma catarse a catira e todos os ritmos locais fizeram dos mais experientes aos mais novos dançarem valorizando tudo aquilo que aquele ‘véio’ Goiás tem. Na sequência Di Melo, o “imorrível” colocou para quebrar com um time de backing vocal que teve até a participação do produtor do Vaca Amarela, João Lucas. Os clássicos não faltaram e estamos até agora cantando “Kilario” e agora sabemos porque ele jamais morrerá.
A penúltima atração era local, e tem todo o peso de um headliner. Filhos de um Motorhead não tão distante, os goianos chocaram todos com um show que merecia todos os aplausos que tiveram e um pouco mais, o Overfuzz é uma banda de rock com um adjetivo invejável: completa. Tem um grande público, não deixa a energia em palco cair e transmite carisma sem precisar esboçar um sorriso.
Na escala rock-rap o último nome era de uma mulher. Flora Matos entrou em palco com toda a sua “satisfação!” e mostrou porque mesmo sem um disco lançado consegue ser tão popular. É o pussy-power, poder da mulher que estava em voga no Vaca Amarela, primeiro Céu abriu na sexta e agora Flora colocava o shortinhos para cima e ensinou a todas as mulheres presentes que é bom ser sexy, é bom ser vulgar e é bom ser o que quiser.
Para um segundo dia que parecia fraco de público no começo, o Vaca Amarela mostrou que não é hepática e trouxe toda a força e o poder que juntou em suas 12 edições anteriores.
muito bom