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Festival Radioca mostra magia em sua edição de estreia

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Festival Radioca mostra magia em sua edição de estreia
Festival Radioca mostra magia em sua edição de estreia

IMG_20150801_203059713_HDR[1]Cidadão Instigado (foto por Marcos Xi/RockinPress)

Começou no primeiro final de semana de agosto de 2015 a estreia do Festival Radioca, levando de maneira rara um programa de rádio feito há 7 anos apenas no amor à música independente virar um festival patrocinado pela iniciativa privada. O evento aconteceu numa ruína de um prédio antigo transformado em estacionamento no bairro do Comércio, em Salvador, contando ainda com uma disputada feira de artesanato e vinil, além de foodtrucks e discotecagens ao estilo do programa que deu nome ao festival.

A impecável estrutura, os ingressos esgotados, os poucos atrasos e a cumplicidade com o circuito independente de festivais brasileiros deixaram clara a intenção de ‘veio pra ficar’ do projeto. O foco em atrações médias trouxe um público interessado e aberto, e o encerramento relativamente cedo (por volta das 22hs) deu um ar de apenas começo de festa, que poderia ser continuada em algum canto da cidade por ainda haver transporte público.

IMG_20150801_210035076[1](foto por Marcos Xi)

O futuro abrindo para os re-inventores

A abertura do festival começou com pratas da casa: bandas com pouco tempo de formação e buscando amadurecimento. Tanto a Pirombeira quanto a Ifá Afrobeat não possuem materiais disponíveis ao público para streaming em plataformas usuais e revelaram um pouco da sua crueza nos palcos. A primeira, Pirombeira, estreando nova formação e músicas, mostrava um jazz com influencias regionais agradável ao ouvido, mas ainda em processo de segurança e fortificação, assim como a própria Ifá, que se apresentou logo em seguida. Em ambas a qualidade do som não ajudou, com muitas microfonias, detalhes desregulados e falta de uma iluminação mais pensada para o público.

A inteligência do Apanhador Só de repensar o formato da música pop e trazer elementos acústico-sucateiro para dentro de suas guitarras ousadas e letras desconcertantes, os transformaram em ídolos não só de público, mas dos músicos e produtores, deixando aquelas perguntas tipo ‘como eles fazem isso?’ ou ‘como ninguém pensou nisso antes?’. Por isso eram, talvez, os mais esperados da noite. Público animou, pediu canções, pulou, cantou junto e deixou clara a força dos portoalegrenses no Brasil. Claramente cansados para a última data de uma turnê nordestina da banda, o quinteto deixou faltar algumas canções indispensáveis ao público como “Despirocar”, “Rota” e “Maria Augusta”, esta tocada após insistentes pedidos do público e ainda em versão reduzida. O foco do setlist em lançamentos mais antigos também surpreendeu, se pensar que era o primeiro show da banda na cidade mostrando o Antes Que Tu Conte Outra, de 2013.

O headline do festival era outro das invenções. Com a guitarra em punho, pouca palheta e muitos dedos, Fernando Catatau distribuiu seus timbres próprios e inconfundíveis para uma plateia com olhar fixo no quinteto Cidadão Instigado. A banda focou-se em disparar uma música atrás da outra, sem conversa, firulas ou brincadeiras, enfileirando canções de quase toda sua carreira e principalmente do disco Fortaleza, recém lançado de forma independente. Aos poucos o público que veio ver o Apanhador Só foi saindo e deixando a crueza setentista e nordestina um pouco mais vazia e pros mais aficionados. A segurança e força do show fez jus a posição no lineup e encerrou a primeira noite com a cara do programa título: orgulho de ser independente e nordestino.

IMG_20150802_174614966[1]OQuadro (foto por Marcos Xi)

Surpresas e chuva de domingo

Com o clima do festival excelente e a sensação de que nada poderia dar errado, o segundo dia veio lotado de surpresas ótimas, com participação providencial da chuva. Na primeira vez que ela caiu foi exatamente poucos minutos antes da local OQuadro abrir a programação do dia, durando por toda a apresentação. O mais impressionante é que, mesmo começando a apresentação com ninguém na frente do palco, ao primeiro acorde uma massa de público se juntou a frente, começando a pular, cantar e se mover junto com os freestyles e jams do show. Sem dúvidas, a revelação do festival e um dos melhores shows do evento. A banda parecia pronta para encarar qualquer mercado, público, com a segurança de quem parecia ter anos de ensaio, quando na verdade integrantes moram em estados e municípios diferentes. Banda pra ficar de olho.

A confusão sonora veio com o Mulheres q Dizem Sim. O quarteto carioca reverenciado pela sua influência pós término e com 20 anos sem subir num palco (fez apenas um show em 2014 no Circo Voador) surpreendeu. Letras diretas e totalmente desconhecidas da maioria dos presentes, tocadas por homens de meia idade vestidos de mulher e perguntando “quem diz sim?” bagunçou a cabeça até de quem veio vê-los, já que muitas das músicas tocadas eram de demos que eles nunca haviam lançado. A participação especial de Moreno Veloso celebrou a mesma ação da apresentação da banda na capital baiana em 94, quando muitos ali presentes nem tinham nascido ainda.

A chuva só foi voltar para se despedir do show de Anelis Assumpção. Com um dedo em cada ritmo afro, a paulista levantou o público e trouxe uma rápida tempestade junto. O ápice foi com a participação do vocalista da Baiana System Russo Passapusso, rolando até pedidos de bis.

IMG_20150802_205840131[1]Siba (foto por Marcos Xi)

E mesmo com essa fileira de shows excelentes, parece que o melhor ficou para o final, e que final. Siba subiu como um garoto cheio de energia querendo mostrar suas musicais do disco novo, o ótimo De Baile Solto. Com o show basicamente focado na reprodução do álbum, Siba trouxe para frente do palco todas as idades, levando senhorinhas a dançar (e ainda ser a primeira da fila para conhece-lo) e jovens a aprender a dançar o frevo-meets-math-com-tuba que o pernambucano ousou a criar ao vivo. Era, literalmente, o encontro do rock com o frevo que, aliado com a chuva e o repente final do show, transformou tudo numa filial da catarse carnavalesca recifense e, definitivamente, o melhor show do Festival. Ali, não se reconhecia mais quem eram senhoras, jornalistas e trabalhadores do festival e no fim todos caíram na farra, com dança, chuva, sorrisos e música. E assim, não há forma melhor de encerrar uma estreia: com um show inesquecível.

Todos os festivais passam por uma questão de validação, algo épico o possível para abrir o livro de lembranças. Já de primeira o Radioca conseguiu cravar a boa lembrança de shows surpreendentes com estrutura que passa experiência, tudo amarrado pelo groove do cenário cultural brasileiro. Basta esperar chegar 2016 para ver uma nova edição do evento, que desde já é um dos mais esperados.

4 COMENTÁRIOS

  1. Me referia a Spotify, Deezer, Rdio, Napster, iTunes e outras plataformas mais usuais e móveis. Esses links eu já tinha =)

  2. Deixou passar o encontro de Fael com O Quadro, mas tudo bem. Grande… grande festival. Botar pressão na cabeça do IFÁ e do Pirombeira pelo primeiro album!

  3. hahaha não dá para falar de tudo o que rola, né Erahsto. A gente faz o possível para caber num texto legível e não cansativo. Esse texto mesmo tinha 7000 toques, o que torna insustentável, por isso a necessidade de cortes.

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