Festival Mundo 2013 e o amor à cultura nordestina
De 26 de outubro a 03 de novembro, aconteceu o Festival Mundo. Realizado pelo Coletivo Mundo em parceria com o Fora do Eixo, o festival acontece há nove anos e já se tornou evento obrigatório na cidade de João Pessoa. Como parte da Rede Brasil de Festivais e do Circuito Nordeste de Festivais, o Mundo integrou artes visuais, exposições, mostras de cinema, oficinas, palestras, mesas redondas, discussões e, é claro, shows – promovendo um mix de atividades com um objetivo em comum: mostrar que “o novo é possível”.
O Festival Mundo 2013 concentrou suas apresentações musicais nos dias 02 e 03 de novembro. Na programação, bandas de diferentes partes do Brasil e muitas locais, numa forma de mostrar ao público o que os artistas e bandas da cidade estão fazendo de novo. Esse foi o gancho que o Rockinpress decidiu pegar para formalizar uma parceria com o festival. Como parte da divulgação, publicamos aqui entrevistas com duas bandas da cidade que eram destaque no festival: Rieg e A Troça Harmônica.
Seguindo os horários das edições anteriores, o Festival começou suas duas últimas noites de show às 16h. Por volta das quatro e meia da tarde, bandas já começavam a se apresentar – mesmo que para um público de dez ou quinze pessoas. A decisão de colocar bandas para tocar na hora de abertura do Festival é comum – afinal, “alguém precisa abrir o festival”, como relatou um dos integrantes da banda Licensiosa, que abriu os shows do sábado. Mas também acaba fazendo com que muitos shows passem despercebidos, e terminem esquecidos na memória do público.
Ao cair da noite, aos poucos, mais pessoas foram chegando na Usina Cultural Energisa para prestigiar o festival. O sábado decidiu apresentar um mix de sonoridades de diferentes vertentes, colocando atrações como Zefirina Bomba e Lurdez da Luz para tocar no mesmo palco – porém não na mesma hora. De certa forma, essa multiplicidade de sons pode ter confundido um pouco – era estranha a sensação de sair de um show intimista, repleto de lirismo e cadência d’A Troça Harmônica, para uma apresentação (um pouco sem sal) da nova musa do rap.
Entretanto, essa diferença dava liberdade ao público para aproveitar as outras atividades que aconteciam ao mesmo tempo no festival: tendas exibindo filmes em 3D, performances teatrais, apresentações de palhaço, e quem sabe até comprar camisetas, livros e discos nos vários estandes montados na Usina. Você podia até levar um skate e fazer umas manobras por lá, num espaço montado só para essa atividade.
A noite de sábado fechou com o show do Curumim. Com sua bateria montada no centro do palco, o músico parecia ter controle de todos os riffs e solos tocados pela sua banda, e trouxe para o público da cidade um bonito espetáculo de samplers, batidas eletrônicas, guitarras e vocais distorcidos.
Já o domingo foi cantado em uníssono pelos amantes dos ritmos caribenhos, africanos, baianos, recifenses e muitos outros, abraçados pelas bandas: Burgo, Seu Pereira e Coletivo 401, Escurinho, Du Souto e Di Melo, que se apresentaram numa sequência muito bem pensada. O destaque da noite, além do show do “Imorrível” Di Melo, ficou com a banda Seu Pereira e Coletivo 401 – que, pela primeira vez, levou todos os trompetes, saxofones e outros instumentros de sopro que compõe as canções do seu disco, para cima palco. A famosa “gréa” tomou conta do último dia do Festival Mundo 2013, e mostrou que o público de João Pessoa cada vez mais valoriza as suas raízes, os seus ritmos de nascença, as melodias do Nordeste.
Embora a vontade do público fosse cantarolar trompetes e dançar cirandas, em determinado momento, o Festival Mundo parou para assistir o show da banda Rieg. Com apenas três integrantes no palco, a apresentação desse grupo é no mínimo excêntrica. Uma parafernália eletrônica é montada no palco: televisões ligadas, imagens estranhas se desenrolando em vídeo no fundo do palco, luzes piscando, telefone e megafones sendo usados como microfone, roupas estranhas, baixo com distorção e muitos samplers – isso tudo para fazer canções que passeiam entre o trip hop, a música eletrônica e o rock indie. Tocando no palco principal, Rieg fez questão de mostrar músicas inéditas, num show que poderia ter durado uma meia hora a mais.
Além dos shows, o Festival Mundo também promoveu uma série de ações sociais e sustentáveis, como vender copos do festival em vez de latinhas únicas (numa forma de evitar que as pessoas jogassem as latas no chão), instalar depósitos de bituca de cigarro feitos de garrafa PET e vender ingressos sociais – em que você paga R$20 + um livro, a ser doado a uma comunidade da cidade.
No início do evento, essas ações até deram certo. Mas, no decorrer da noite e principalmente no segundo dia, começou a ficar complicado: acabaram os copos com os desenhos do festival (que foram substituídos por copos verdes sem graça), além das filas demoradas para comprar fichas, e mais filas para trocar as fichas pelas bebidas. Em meio a um conceito de que “o novo é possível”, talvez, nesse aspecto, o Festival quis inovar demais, e acabou escorregando no próprio cadarço.
Por fim, podemos afirmar que o Festival Mundo deste ano foi feliz. Mesmo não trazendo atrações de grande porte, como aconteceu em algumas edições anteriores (que pudemos ver shows de Móveis Coloniais de Acaju, Autoramas, Macaco Bong, e até apresentações de grupos de fora do país), o evento deixou sua marca na programação de João Pessoa. Não havia mais de duas mil pessoas na Usina Cultural Energisa este ano. Mas, das centenas que estavam lá, estavam por um motivo: a valorização da nossa produção local independente. Haja o que houver, o Festival Mundo ainda é um evento essencial para a cena cultural independente de João Pessoa.
Veja mais fotos na página do evento.