O percurso de Febril de Beto Larubia
É possível compreender um determinado contexto a partir de suas cores, sensações ou sons. Em Febril, disco de estreia da carreia solo de Beto Larubia, as sonoplastias, sobretudo, são determinantes e marcantes, trazendo um frescor e se aproximando de seu ouvinte.
Poder presenciar um disco que se apresenta de maneira sincera e contemporânea possibilita abrir os olhos ao agora e enxergar o que está ao redor com mais cuidado. Seja por sua trajetória, ou pela maneira como se relaciona com a arte, Beto Larubia transmite sua verdade sem precisar de muito.
Febril é a marca de que esse artista tem muito a oferecer. O disco é um lançamento do selo Garimpo, braço fonográfico do grupo Brasileiríssimos. Quem acompanhou a andamento da Coletânea, que carrega o mesmo nome do selo, disponibilizada ano passado, pode ouvir Beto cantando “Frio”, canção feita em parceria com sua irmã Amanda Larubia.
Beto Larubia – Frio
O retrato desse jovem suburbano não aparece de forma datada. O personagem desse disco se apresenta fragilizado, porém apaixonado, ao ponto de se entrega e sofre por isso. Mas encontra um alento, ou como o próprio artista coloca “a vida não acaba em dissabor, o verdadeiro amor da sua vida é tranquilo e vai acontecer” ao falar de “Horário de Verão”.
Para saber mais sobre as vivências e motivações de Beto Larubia acompanhei a entrevista que fizemos com ele abaixo:
Você não começou na música agora, sua estrada e bagagem já são grandes, mas lançar um trabalho solo, embora construído por várias mãos, muda a perspectiva. Para você, hoje, o que esse passo, na sua trajetória musical, representa?
Vivo um momento mágico, não é todo dia que a gente consegue realizar um sonho, não é mesmo? Esse disco é meu pedaço de Sol nos recifes de coral da MPB, foi feito junto de tanta gente que me ama, carrega um mundo de emoções acumuladas dentro da alma. Hoje me sinto maduro pra solta-las e colocar esse bloco na rua!
Febril encontra lugar em um território pouco habitado e pouco explorado. O subúrbio carioca não é um plano de fundo ou uma paisagem, aparece como uma marca do disco. Como sua interação com o meio onde vive, e por onde passou, interfere no seu processo de composição?
Esse disco começa a ser escrito no concreto frio de São Paulo e vai ganhando força no trem lotado do ramal Santa Cruz até a Central do Brasil, no multiculturalismo da favela da Maré, em noites quentes de amor na baixada fluminense, o bucolismo urbano da zona Oeste carioca onde passei minha vida inteira até aqui. Mas, todo lugar é lugar, estamos colorindo todos os espaços ao transitar como nosso som e produções artísticas.
Dentro das suas referências tem Amelinha, Luiz Melodia, Sérgio Sampaio, entre outros, a construção do seu trabalho está ao redor disso porém, não soa como uma cópia, ou mais do mesmo. Como é absorver e incorporar referências tão fortes?
Criar é lembrar com carinho, dito isto, o que faço é colocar meu olhar sobre o que já existe, respeitando a tradição da música popular brasileira. A identidade vem dos sentimentos e experiências que escrevo e canto. Graças a Deus tenho essa galera comigo, converso quase todo dia com eles, amo os discos de 73.
Desde a construção do disco até agora, como Febril se transformou aos seus olhos? Como você encarar esse disco hoje?
São cinco anos em 34 minutos, muita coisa mudou em mim e isso se reflete nitidamente na narrativa do disco. Ha um dualismo natural entre os retalhos de solidão e o mar de Sol que inunda o álbum, sinto os calos na mão perpassarem a vida quando penso em “Cinzel”, ao fechar os olhos pra ouvir “Somente Sua”, sinto frio de SP e uma dor gigante daquele amor impossível, meu coração alado pousa livre em “Horário de Verão”, pois, a vida não acaba em dissabor, o verdadeiro amor da sua vida é tranquilo e vai acontecer.
Depois de ver a recepção do público, da crítica ver o trabalho pronto é uma sensação de alívio ou de dever comprido?
Acima de tudo é um privilégio poder cantar essas músicas, estou em estado de poesia, parafraseando o grande Chico César e seu disco, ouçam, é lindo!
O que você diria para aqueles que ainda não conhecem sua música?
Eu sou igual a você, com minhas lutas e perdas, os dias de chuva em mim inundam semanas, mas, tô na correria pra realizar as coisas que acredito e não vou sozinho, não somos um exílio. Quando ouvirem o Febril, desejo que sintam força nas palavras que canto e refrigério pra seguir.