Entrevista: Djangos

Antiga no cenário Underground brasileiro, Djangos apareceu em 94 quando a formação atual da banda aconteceu (Marco Homobono, vocal e guitarra; JJ Aquino, bateria; Lyle Diniz, baixo), e quando “Sopa de Jornal” começou a tocar na Radio Fluminense FM. Antigo não? Pois então, é desde essa época que a banda vem encantando com seu som, que é uma mistura de punk, reggae e por que não dizer, um pouco de “Skank” também!

Após um tempo em hiato, em 2007 os Djangos começaram a divulgação de seu novo disco, “Mundodifusão”, produzido por Marcelo Yuka (ex-Rappa e F.UR.T.O.), O CD conta com participações mais que especiais do próprio Yuka, João Xavi, Lazão (Cidade Negra), Amora Pêra (Chicas) e Jomar Schrank, as músicas que já saíram nos deixam curiosos para saber do resto. A banda trabalhou muito em cima do single “Operação São Jorge!” no ano passado, e tiveram uma participação marcante com João Xavi na abertura do show do Móveis Coloniais de Acajú, na virada cultural do Rio. No fim do ano o tiveram o clip do single lançado pela MTV e encaminharam-se efetivamente para o lançamento do álbum. No dia 18 de novembro a banda também carimbou o seu trabalho no Oi Novo Som.

Sendo um grande fã do som deles entrei em contato com os caras e os chamei para uma entrevista.


Clipe de “Operação São Jorge”

Bom, Daqui da minha prisão domiciliar, Eu escuto barulho do lado de lá… Seria o som do Mundodifusão? A quantas anda o lançamento do novo álbum da banda?

Jj Aquino: Mundodifusão são as antenas ligadas ao mundo. Tudo que acontece ao nosso redor. O cotidiano, a internet e as reflexões do mundo contemporâneo serviram de alimento para Mundodifusão. Já sobre o álbum. Estamos a vésperas do lançamento do cd pela internet, através dos portais de música de todo Brasil. Tentaremos divulgá-lo, também, ao máximo nas redes sociais para depois lançarmos, o cd físico, nas lojas.

Como foi gravar A música de trabalho de vocês “Operação São Jorge”? Falar de problemas que ocorrem com freqüência nas favelas brasileiras e da alienação popular… Conte-nos como surgiu a letra?

Marco Homobono: A letra surgiu numa noite de insônia provocada pelo medo de ver espíritos. Isso se repetia com frequência nas minhas madrugadas. Eu sentia certas presenças no meu quarto apesar de estar sozinho. Até que um dia, escutando os fogos dos balões do dia de São Jorge, eu fiquei mais calmo. Como moro perto da Cidade de Deus, havia um tempo – antes em que escutávamos vários tiros de armas de fogo, sem saber o que estava acontecendo de verdade por lá. Na hora de escrever a letra, imaginei como se fosse uma batida policial na favela, no dia de São Jorge. É uma polaróide noturna.

O Djangos tem feito um ótimo retorno aos palcos e com promessas de um novo CD excelente, pra vocês como está sendo este retorno já que desde 2004 (creio eu) que não gravam juntos?

Marco Homobono: Na verdade, a nossa última incursão em um estúdio tinha sido em 2005 para gravar a música “Atenção”, feita para uma campanha sobre os direitos sociais da FASE, uma ONG com a qual tínhamos um contato muito estreito. Depois disso, começamos a gravar

“Mundodifusão” em 2007. Essa gravação levou muito tempo e foi cansativa, porque gravávamos nas madrugadas, tendo trabalhado em nossos empregos no expediente normal. Mas ao mesmo tempo por estarmos com Marcelo Yuka, em seu estúdio, Observatório de Ecos, foi muito divertido também. O estúdio, por sua vez, é um depósito de máquinas de se fazer música, equipamentos antigos e raros, vinis diversos. Isso sem contar a verve sempre afiada do Marcelo, o fato de contarmos com Jomar Schrank, músico e compositor iluminadíssimo, que participou de várias faixas e sua esposa Daniela Pastore, que nos gravou. E vários amigos que apareceram no estúdio para dar aquela força.

“O disco novo está cheio de ótimas letras e um som que anima sem alienar” Frase retirada do La Cumbuca em 23 de Abril. Eu estava no show do “Móveis” quando vocês fizeram a pré-estréia do Mundodifusão, e confirmando a afirmação do Otaner, vi a ótima reação do público à parceria de vocês com o João Xavi em Cabra Marcado, é essa batida que devemos esperar do resto do CD?

Marco Homobono: Os Djangos apreciam vários estilos e várias batidas. É uma banda crossover, mas confesso que a nossa predileção é mais orientada pra essa coisa do reggae, punk, dub, ska e vocais mais ou menos falados (herança do raggamuffin e rap). Se bem que acho que nesse nosso novo disco, temos muito mais melodias. A música que fecha o disco, “Teresa”, é uma balada que me remete a uma coisa totalmente diferente do esquema usual da banda, com a qual eu faço piada dizendo que enveredamos pela música romântica italiana. Na outra ponta, temos uma música chamada “Beco sem saída (Forrockers)”, que é a música mais antiga de nosso repertório, junto com “Sopa de Jornal” (gravada no primeiro disco “Raiva contra Oba Oba”). Ela tem alguns ecos nordestinos, mas no disco colocamos sons indianos e fizemos uma cruza que soa meio mourisca, sei lá. Viagens nossas.

Jj: O cd é mais ou menos um caldeirão musical. A gente gosta de misturar mesmo. O cd tem, também, levadas meio de samba, dub, ska e outras que vocês vão poder conferir ouvindo as músicas. Eu gosto muito de melodias vocais. Acho que são as heranças de Beach Boys nos meus ouvidos (rs). E este cd está cheio de melodias bonitas.

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Djangos – Cabra Marcado (Oi Novo Som)

A carreira de vocês é repleta de letras interessantíssimas como “Raiva Contra Oba Oba”, “Sopa de Jornal” e “Eles me fazem chorar”, é com essa mesma característica que as músicas de Mundodifusão virão?

Marco Homobono: Puxa, muito obrigado. No disco novo temos letras de outros compositores, amigos nossos, como Frank Araújo, que tocou guitarra com a gente um bom tempo, DJ Gutz (Sequelandia, os Wanderleys) e Piu-Piu. O resto das letras fui eu que fiz. Sinceramente, não sei mais por onde anda o meu estilo de letras. Geralmente, elas são geradas em algum fato triste, uma constatação grave, que gera uma música mais upbeat. “kamundjangos”, nosso protohit, por exemplo, foi para mim uma música teurapêutica, pois fiz para minha própria preguiça e letargia, um antídoto em forma de ska acelerado. Por outro lado, os Djangos também tem uma coisa mais engajada. “Eles me Fazem Chorar”, pintou quando li alguns textos na revista Caros Amigos sobre as manifestações populares duramente reprimidas por forças policiais em Davos (Suíça), Seattle (EUA), na Av. Paulista, São Paulo e em Cabrália, na Bahia (essa por ocasião das comemorações dos 500 anos de Descobrimento do Brasil). Mas as letras não tem um padrão muito distinto não, a meu ver.

Voltando ao álbum, como foi a parceria de vocês com Marcelo Yuka na produção do CD?

Jj: O Yuka sempre esteve conosco mostrando sons, trocando idéias. Tanto que a nossa primeira demo, foi produzida por ele e o Kassin, e de lá pra cá sempre mantivemos contato. Então essa coisa da produção dele já tinha sido cogitada na época da warner, para o segundo cd. Muita água rolou nesta época, mas conseguimos manter esse projeto com ele. Sabíamos que seria importante pra gente a produção do Yuka para o mundodifusão. Até a gravação do cd fizemos várias demos, sempre com o olhar critico do Yuka por perto. E quando chegamos ao estúdio pra registrar as canções, já estava fácil o entendimento. Acabou dando tudo certo e trabalho fluiu muito bem.

A banda com o produtor do álbum, Marcelo Yuka

Falando de parcerias, adoro a Amora Pêra e as Chicas, e soube que estão produzindo uma música com ela, como está sendo essa parceria com a filha de um de nossos grandes cantores e compositores?

Marco Homobono: Há muito tempo, Jj Aquino nos apresentou uma música do repertório do Gonzaguinha, chamada “Comportamento Geral”. Fizemos uma versão com grooves pra ela e começamos a tocar nos shows. A composição é sensacional e apesar de ter sido criada na década de 70, soa atualíssima hoje. “Comportamento” acabou entrando para o disco. Partiu do Yuka a idéia de chamar Amora Pera, uma grande amiga sua e filha de Gonzaguinha, para cantar conosco nessa versão. Ela topou ir ao estúdio sem ter escutado o que havíamos feito com a música de seu pai. Os cerca de três minutos e alguma coisa – tempo de duração de nossa versão – em que ela escutou pela primeira vez, foram torturantes para mim. Eu pensei que ela pudesse não gostar e se recusar a gravar conosco. Mas ela adorou e a sua participação foi de arrepiar. Ela é uma grande menina e uma grande cantora.

Para acabar queria uma curiosidade saciada, adoro a música “I’m Gonna Babi”, gostaria que me falassem um pouco mais sobre o surgimento da música.

Marco Homobono: “I’m Gonna Babi” surgiu numa época em que escutávamos muito raggamuffin, como Shabba Ranks, Cutty Ranks, Maccbee… Eu ficava impressionado como os caras falavam várias coisas em um curto espaço de métrica e resolvi fazer uma brincadeira, misturando fonemas apenas que, na verdade, não significavam nada. O pior é que sempre que a gente canta, a letra no sense é sempre a mesma, e algumas pessoas não acreditam nisso. Enfim, é uma experiência fonética.

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