Não existe drama do segundo disco. Na verdade, ganha-se experiência, buscando melhorar aquilo que não foi perfeito no trabalho anterior. Este princípio de liberdade está bem explícito no novo disco dos baianos da Maglore, Vamos Pra Rua: um registro descritivo do processo de divulgação do primeiro trabalho, deixando de lado clichês que tanto permearam o álbum anterior e destampando a parte mais vívida do quarteto.
Aumente o volume dos fones e perceba o chiado fino no fundo das músicas, no início e final de cada faixa. Isto é o barulho de um disco feito ao vivo no estúdio, tentando explicitar o lado orgânico da banda. Feche seus olhos e sinta o áudio passar de um lado para o outro na sua cabeça. O registro caminha pelos ouvidos como se você estivesse lá com a banda, dentro de uma casa cheia de instrumentos musicias e assistindo a Maglore gravar tudo sem intervalos, somente no sentimento.
O álbum também ajuda a descrever a movimentação cultural que acontece em Salvador, trazendo a participação de Aiace Félix, do Sertanília, e Isadora Sebadelhe na faixa “Nunca Mais Vou Trabalhar” e o mega coral de “Avenida Sete” e “Sobre Tudo o Que Diz Adeus”, composto por Silvio de Carvalho e Filipe Coelho (Tabuleiro Musiquim/Suinga), Diego Fox (Suinga), Isadora Sebadelhe, Karen (Dimazz e Dois em Um), nana, Nancy Viegas, Dimazz, Pietro Leal (Pirigulino Babilake) e Cebola Pessoa (Calangazoo), músicos que se enquadram no cotidiano musical do Maglore dentro da cidade de Salvador.
Contemplando o trabalho da banda, aparece ainda em destaque participações que orgulhariam quaisquer artistas do país. Logo na segunda faixa, “Quero Agorá”, a genialidade rítmica de Carlinhos Brown acrescenta sua voz exatamente na canção que mais se aproxima musicalmente da Bahia. Mais à frente, Wado solta sua voz em “Nunca Mais Vou Trabalhar”, uma das faixas que exemplifica esse flerte ainda mais forte da Maglore com sua brasilidade. Por fim, a cantora dinamarquesa Stina Sia faz algumas vocalizações em “Sobre Tudo o Que Diz Adeus”, faixa que encerra o álbum.
A transição entre Veroz – álbum de estréia – para Vamos Para Rua prioriza o ritmo e a brasilidade da banda colocando o peso das guitarras um pouco de lado. Ao passar das canções delays e pianos vão deixando as músicas mais viajantes, como a bela “Debaixo da Chuva”, talvez a música mais diferente que a banda já tenha lançado em sua trajetória. Destaque também para as gostosas “Motor” e “Beagá”, além das inspiradas “Beleza de Você”, “Vamos Pra Rua” e o primeiro single, “Demais, Baby”.
Vamos Pra Rua, segundo disco da Maglore, foi produzido por Tadeu Mascarenhas e Maglore e tem lançamento marcado para o dia 23 de Maio, para download gratuito no site Musicoteca. Abaixo você confere a primeira música liberada do novo álbum, “Demais, Baby!” e uma entrevista com o vocalista Teago Oliveira, onde conta detalhes do novo trabalho da banda.
Você me disse que o disco novo está menos rock e mais música brasileira do que o anterior. De onde nasceu isso?
Nasceu desde o inicio da banda. O primeiro disco foi o primeiro contato com muita coisa. Foi muito importante, mas ninguém estava entendendo muito bem o que estava fazendo e o produtor, Jorge Solovera, foi condensando o que tínhamos de substrato. Nesse disco, acho que a gente conseguiu mostrar mais o conceito da banda de forma mais objetiva. O processo é esse: fazer sentido pra gente e coincidentemente poder fazer sentido pros outros. Isso é o bacana. A gente vai se entendendo mais.
O disco está mais brasileiro, mesmo. Mais plural, mas com sotaque baiano. São vocês para o Brasil. Há canções para cantar junto, como “Avenida Sete”.
O disco tem uma nuance nacional forte porque nós somos daqui, mesmo. Ouvimos muita música brasileira, apesar de ouvir muita coisa de fora também. “Avenida Sete” é uma das que não é de minha autoria. A música é de Marceleza de Castilho (ex-integrante da SUINGA). Reflete muito o nosso sentimento sobre a cidade de Salvador. Além dela, “Debaixo de Chuva” é conjunta: Eu, Nery – baixista da Maglore – e Rodrigo Damati – compositor e cantor. Damati teve uma banda chamada Cerveja Café, da qual tive muita inspiração.
Explique o conceito de “Vamos Pra Rua”. O título por si só já é bem sugestivo.
Não sei. Não sei explicar bem essas coisas. Acho que é o sentimento que vivemos durante esse tempo de estrada. As viagens, as pessoas dos lugares, a forma como fomos nos apaixonando ainda mais por essas coisas. Tudo isso influenciou nossa visão.
A faixa “Beagá” seria uma das provas desse sentimento?
Não necessariamente. “Beagá” é um sentimento particular, que não só eu, mas que a banda tem com a cidade e saiu em forma de música. Os amigos, as constantes idas, os costumes da cidade, a recepção das pessoas. É muito aconchego. O disco todo faz uma reflexão sobre lugares, não em todas as musicas, mas em uma parte delas. Há uma menção ao Rio de Janeiro, São Paulo… (Salvador não precisa dizer, né? Ficamos o ano longe da cidade. Isso causou impacto). Mas o disco não é uma coisa sobre lugares. A temática dele não é o conceito físico de lugar.
O Vivendo do Ócio também passou um tempo longe e escreveu um disco falando bastante da Bahia. O que essa terra tem de tão especial, na sua opinião?
Bahia? É a minha terra, é onde cresci. É questão de sentimento. De povo. É um lugar sofrido também, apesar de transparecer alegria transbordando. É de uma profundidade única pra quem vive aquilo, como São Paulo é para o paulista, o Rio pro carioca e Belo Horizonte para o mineiro.
Carlinhos Brown e Wado no disco. Conte a história destes encontros.
Carlinhos Brown na minha opinião é um compositor incrível, artista incrível, músico incrível, ritmísta absurdo, autor de músicas célebres gravadas por Caetano, Marisa Monte e parcerias lindas com Gerônimo. Existe muita gente que não conhece direito a representatividade de um Carlinhos Brown na música brasileira. Só conhece a figura, a visão do nome associado a muitas coisas que não o resumem. Eu queria MUITO ele no disco. O trabalho dele no carnaval de 2013 foi lindo. Mandei email e um belo dia a produção dele me respondeu dizendo que ele topava cantar a musica! Sei que Carlinhos Brown não topa qualquer coisa. Fiquei mais feliz ainda porque ele entendeu o que tava acontecendo na canção. Dá pra entender a onda, né? Carlinhos Brown é um artista muito grande e ele ter aceitado me dá muita satisfação.
Toda a banda é fã de Wado. Ele é unânime, adoramos mesmo. Antes de gravar o disco, a gente queria muito ter Wado participando. É um cara muito querido e muito admirado. Eis que Wado, no meio da nossa gravação, posta no Facebook que estava indo pra Salvador… Porra! O convite foi na melhor hora possível e ele dois dias depois estava no estúdio. Foi muito legal. Wado sinceramente é um cara que merecia muito mais reconhecimento do que já tem, mas isso não é algo pra se discutir aqui, dessa forma. O trabalho dele está aí pra eternidade.
Tudo que a gente queria é que o disco fizesse sentido. Estar com quem a gente gosta, ter a bênção das pessoas que a gente gosta fazerem parte do disco, isso dá muita satisfação.
(Wado toca com a Maglore no Conexão BH, dia 30 de maio)
Outra coisa interessante que eu vi foi que vocês chamaram boa parte da cena baiana atual para participar do disco. Há uma integração na cena atual? Como você vê a cena baiana agora?
Todo mundo está no disco, de alguma forma. As bandas das quais fazemos parte da cena… Todos os amigos fizeram coro. Eu amo Salvador, bicho. De coração. Eu amo ter vivido naquele ambiente com tanto músico bom e com tanta gente boa.
Eles foram chamados por necessidade ou porque vocês queriam colocar a cena baiana no disco?
Necessidade em que sentido? No sentido composicional e estético o disco já era um disco fechado. O disco é basicamente os 4 tocando sem muito overdub. Eu achei divertido ter todo mundo ali porque a gente participou de tanta coisa junto que não tinha porque não envolver, sabe? Giovani da Velotroz indo nas sessões de gravação foi importantíssimo, Leandro (Cebola) indo sempre também, Ronei Jorge ouvindo as prés e indicando caminhos… Bicho… Isso é lindo, viu? A receptividade e o cuidado que um tem com o outro…
Quais as esperanças para esse álbum?
Esperança? Não sei, bicho. Fizemos um disco de coração mesmo: arriscando tudo, gravando ao vivo, na sala, vazando muito, passando com fita de rolo, poucos mics aproveitados na mix, uma master contida, escolhas… Estamos felizes, apenas. Mercadologicamente não pensei em nada, não aprendi ainda a pensar assim.
Então foi problemático, na verdade?
Não. Natural ao extremo. Gravação sem overdub, tudo soando realmente cru como queríamos: a banda, mesmo. Sem muito arranjo espertinho demais, no lugar demais, pensado demais. Tinha que ser o que rolasse na hora do “rec”.
Ao meu ponto de vista, você não acha que a banda não precisa pensar mercadologicamente porquê: 1) a banda já tem seu próprio apelo pop e 2) que mercado?
Não, não. Nós ainda não pensamos nisso porque… ainda não pensamos! Não quer dizer que não precisamos.
E o que precisam?
Não sei, bicho. Eu gostaria muito de viver disso e de ter a possibilidade de viver assim, sempre tentando fazer algo de relevante pra mim. Levo a coisa pensando no que gosto, que é o lado mais artístico da coisa, evoluindo nisso. Tentando evoluir sempre. É o que você falou certeiramente: “que mercado”, né? Onde a gente se encaixa nisso, hoje em dia? A preocupação maior está só no “fazer”.
Adorei, vamos prá rua?kkkkkkkkkkkkkk demais baby………………………
[…] trás um som mais maduro e toda a experiência adquirida desde Veroz, de 2011. O RockinPress resenhou o álbum e ainda entrevistou o vocalista, Teago Oliveira, nesse […]