Entrevista: Phillip Nutt

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Dois anos após o “From Heart”, o garoto prodígio do folk brasileiro cresceu. Agora com 20 anos, sua música ganha novas nuances e flerta com outros estilos. As influências já marcantes de Damien Rice, The Frames e Jeff Buckley ganham companhia de Jacques Brel , Tim Buckley e muita música negra americana: Marvin Gaye, Curtis Mayfield, James Carr.

Numa conversa que começou ao acaso, Phillip Nutt conta ao RockinPress sobre como a música nordestina e seus pais ajudaram a formar quem é ele musicalmente, o futuro da música folk brasileira e, claro, sobre o próximo disco  que será lançado ainda esse ano.

RockinPress: Phillip, como você ver o atual momento do folk em nosso país? E português?

Phillip Nutt: Eu vejo como uma ótima mudança para os artistas, para o cenário. Eu acredito que quando se faz música, o importante é você ser honesto consigo, soar natural. Os folkers brasileiros que ouvi cantando em português, fizeram muito bem feito. Quando comecei a compor, escrevia em português. Até por não ter tanta prática com o inglês. Mas o tempo foi passando, eu estudando inglês em casa e percebi que me sinto mais a vontade escrevendo e cantando em inglês, até pela maior parte das minhas influências virem de fora. É um desafio. Nesse novo disco não terão músicas em português, mas eu não descarto, futuramente.

No Brasil, o folk tem tudo pra se tornar cada vez maior, cada vez mais visível. Conheci muita gente que que gosta de folk, apenas não sabia que o estilo musical se chamava assim.

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Sobre essas influências, existe novidades em seu próximo álbum?

Falo com muito prazer que Van Morrison, Tim Buckley, Jacques Brel sempre me influenciaram e acredito que nesse disco isso ficará mais evidente ainda… Mas nesses últimos tempos tenho ouvido muita música negra americana. Marvin Gaye, Curtis Mayfield, James Carr, Nina Simone… E eu estou muito ansioso para que o público ouça o que tenho pra mostrar nesse novo álbum.

Como é a sua relação com a música brasileira?

Minha influências nacionais vêm do que meus pais sempre ouviram. Fagner, Alceu Valença, Zé Ramalho e Luiz Gonzaga. De forma geral, muita música nordestina, afinal, meus pais vieram do Maranhão. Às vezes acordo e vou correndo pesquisar pra ouvir, me lembra a minha infância e quando eu acordava nos domingos de manhã e ouvia “Cavalo de Pau” do Alceu e ficava cantando junto, criança ainda. Acredito que se não fosse pelas músicas apresentadas pelos meus pais, eu não faria o que faço hoje, da forma como faço.

Como você conheceu o Folk? Também foi através de seus pais?

Meus pais eram desses que ouviam, gostavam, mas não sabiam que folk se chamava “folk” (risos). Meu pai me apresentou Bob Dylan. Eu fui conhecendo os outros artistas e vertentes do estilo por conta própria, pesquisando. Fui privilegiado por já ter internet na época que me interessei por música.

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Como que é a sua relação com fãs estrangeiros? Há uma boa aprovação desse público?

Acredito que sim, inclusive já fizeram contato comigo parabenizando pelo trabalho. Eu estou botando muita fé que esse novo disco vai me dar uma visibilidade maior tanto aqui quanto lá fora. Estou muito ansioso para que as pessoas ouçam.

O que faltou para você sair do eixo paulistano e ir até outros estados para shows?

Até surgiram alguns convites, mas foram meio “por cima”. Acredito que com o novo álbum, melhor produzido, mais rico em instrumentos, as coisas vão rolar mais facilmente. Espero rodar o Brasilzão fazendo o que amo fazer!

O  From Heart mostrava um Phillip mais vibrante, cativante… esse disco será mais melancólico?

Ótima pergunta! O “From Heart” foi escrito num momento que eu me recuperava de um relacionamento acabado. Eu estava acabado. Já o novo disco será um bocado diferente… Eu tenho uma companheira há quase 2 anos. Eu estou feliz. Isso influenciou no processo de criação das músicas do novo disco. O público vai notar essa mudança. Tenho amigos que acompanharam o processo de criação, gravação e notaram. Mas notaram mantive a minha essência. O folk é melancólico, naturalmente. Mesmo com músicas mais alegres. Sempre fico imaginando a reação do público quando ouvir o novo disco… Acho que vão ter uma boa surpresa!

Sempre ao buscar sobre você, encontro muitas parcerias com a Victoria Vaz. Ela participou do processo de criação/gravação?

No processo de gravação sim. A Victoria foi um achado. Estudamos juntos na mesma escola. Começou quando escrevi “Keepsake” (single lançado no ano passado). Essa música é meio que um diálogo entre um homem e uma mulher. Eu precisava da tal mulher. E ela não foi minha primeira opção de voz feminina. Mas ainda bem que a minha primeira opção era ocupada demais pra fazer um ensaio. Eu e a Victoria temos uma sintonia musical muito boa, desde o começo.

O Marcelo Jeneci sempre afirma que o seu primeiro álbum foi produzido durante a vida inteira, agora ele teria apenas dois anos para produzir o segundo. Sentiu algo parecido? Até mesmo o peso de continuar a carreira de garoto prodígio do folk brasileiro?

Essa frase é inteligentíssima. É preciso viver pra ter o que falar, ter o que escrever. Concordo plenamente. Já esse lance de peso por ser “garoto prodígio do folk”… Eu sempre dou risada quando ouço isso. hahaha Não sinto peso pra continuar ser esse “garoto prodígio”. Nem me sinto isso. Eu apenas busco meu lugar ao sol da minha forma. O que eu quero é conseguir viver do meu trabalho, da minha música.

Teremos novidades nesse próximo álbum? Pode contar alguma coisa?

Deu pra notar que estou bem ansioso por ele né? (Risos). O que posso dizer sobre o novo disco é que ele terá um pouco de tudo que tenho como referência musical. Flerto com outros estilos. Inclusive citei o Soul em outra pergunta… O disco terá diferentes nuances. Uma música bem diferente da outra. Banda. Cordas, metais… Acho que até falei demais hahahahah

Por enquanto não posso contar mais novidades, mas em breve as pessoas saberão o nome do disco e o motivo de se chamar assim. Acredito que no mês que vem saia alguma novidade “escutável”. Gosto de deixar um suspense no ar.

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