Entrevista: Medulla

As vezes pode parecer uma seita. Talvez um grupo de fiéis urrando suas verdades para um público inflamado que levanta as mãos aos céus como quem pedisse a benção que aquelas músicas parecem distribuir. Um show do Medulla é algo realmente diferente, uma experiência incomum feita para se sentir. Aqueles caras sabem dizer cada palavra e disferir cada golpe na bateria com o sentimento certo.

Não à toa, a banda tem algo a dizer, uma opinião para o futuro, e se baseia na verdade para seguir seus pensamentos. Eles fazem parte de um seleto e extremamente reduzido grupo de músicos que não entraram nesse mundo para criar músicas para menininhas e tocar acordes simplesmente para fazer dançar. A questão aqui é outra, mais profunda e interessante. O próprio  Edu K, homem que desde sua época áurea na frente do DeFalla era tratado como alguém muito a frente do seu tempo, escreveu certa vez que o Medulla “não é a mais nova salvação do rock. Eles vieram para destruir e construir tudo de novo em cima dos escombros.”

Mais quem quer ouvir e enxergar isso? Quem quer entender o que o Medulla é, quer e será? Aproveitamos o lançamento do novo clipe da banda na programação da MTV para arrancar os planos, opiniões e mensagem que o Medulla tem a dizer. Confira abaixo o clipe de “Movimento Barraco”, o novo integrante, o novo compacto e todas as novidades da banda carioca Medulla em nossa entrevista.

O que é o Movimento Barraco?

Essa música foi escrita pelo Dudu, iluminado numa conversa com o compositor Ludi Um…eles imaginavam um despertar do povo diante de tantos absurdos…a música expõe personagens comuns desse caos.

As pessoas que gostam e entendem a banda se sentem parte do que vivemos, e a música acabou dando voz a essa relação.

O clipe seria uma retrospectiva do que a banda já passou até hoje?

há um tempo nós mirávamos um vídeo clipe onde ficasse aparente a vibração dos shows e os encontros que fizemos durante esse período de compactos. Esse vídeo é uma homenagem aos nossos “camaradas”.

O que são os símbolos e números que aparecem no decorrer do vídeo? Significam algo?

Os símbolos se repetem de diversas formas no clipe, mas o principal deles é o Medulla.

No mais, considerem como um termômetro do clipe. Este termômetro pode indicar um momento precisamente, ou indicar o que não está à vista dos olhos e até das lentes. (Cironak)

Agora a banda tem 7 integrantes. Como se dará a entrada de Bruno Cinorak na banda?

A entrada do Cironak no Medulla tem sido muito honesta e natural. Está com a gente desde os 16 anos de idade, veio de SP pro RJ com a gente. Hoje com 19 de idade, vem conquistando o merecimento e cada vez mais espaço dentro do Medulla; com suas ideias, seu envolvimento e sua busca por sabedoria e informação. esses 4 requisitos são necessários para ingressar na nossa sociedade, que é muito fraternal e acolhedora, porém bastante exigente. E o Bruno cada dia mais nos surpreende, as vezes até vai além demais o que na pior das hipóteses acaba sendo muito inspirador para todo o trabalho.

Playbotton (foto por AP Facchini)

Playbutton. Vi que bandas passaram a usar como lançamento e vocês vão começar a trabalhar com essa nova tecnologia. O que é e porque o escolheram?

O Playbutton é uma mídia nova-iorquina que consiste num botton com a arte da banda, que tem um player de mp3 de conteúdo inalterável (afinal é um disco não um pen drive). No exterior artistas como Belle and Sebastian, TheXX, Extreme e ATOM já usam o Playbutton como mídia expressiva, agora nós do Medulla, convidados pela SeloFan, estamos lançando o primeiro Playbutton no Brasil.

Com esse lançamento entramos na segunda fase do Capital Erótico. Ele contém as 4 tracks do compacto mais uma faixa bônus de “I was a monster”.

Tínhamos uma gravação antiga, de quando ainda estávamos fazendo a música…Era uma gravação muito ruim, feita com microfone de karaokê…só tem bumbo, caixa e contra-tempo…Ficou nas mãos do Cironak o dever de piorar as coisas…a música parece derreter os falantes…………………the death of the Terminator.

O caminho que traçamos na ideologia dos compactos, nos fez buscar novas iniciativas no mercado independente no mundo todo. Esse mercado tem mostrado soluções para grandes empresas, não só da música.

Optamos pelo PlayButton por trazer um relacionamento com o fã, sendo um acessório e um produto de música inalterável e por meio disso acabamos com a oportunidade de sermos os pioneiros dessa midia no Brasil em nossas fucking hands.

Quem produz e quando será lançado o quarto compacto? Já tem nome?

Vamos fazer o último compacto dessa série (ainda sem nome) com o Patrick Laplan. Ele é um produtor muito talentoso, toca muitos instrumentos e desde o nosso primeiro encontro, como baixista no álbum “O Fim da Trégua”, temos nos alimentado de uma troca muito rica de influências e visões. Depois de algumas noites regadas a cafeína chegamos ao repertório e já estamos trabalhando nas prés. Pra quem quiser conhecer melhor o trabalho do Patrick nós aconselhamos uma visita longa ao bandpage do seu projeto “Eskimo

O próximo compacto já está em fase de pré-produção e virá para encerrar um ciclo. Explique melhor o que ele vem para encerrar.

Estamos numa campanha de 4 Compactos que antecedem o 2º álbum da banda. Durante essa campanha lançamos todos os compactos em mídias diferentes, sendo

– CMPCT I 2008 – AKIRA (internet);
– CMPCT II 2009 – Talking Machine (fita cassete);
– CMPCT III 2010 – Capital Erótico (venda vitual – pleimo.com/medulla e playbutton);
– CMPCT IV 2011 – Ainda sem nome.

É a campanha de busca por outros mundos no conceito da exposição de tudo que nós vemos, vimemos, cremos e sentimos em forma de arte.

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Medulla Ao Vivo

Qual é a missão/filosofia/mensagem musical que a Medulla tomou para si?

Somos um corpo, ficamos os últimos 5 anos motivando nossos fãs a entenderem nosso comprometimento artístico. As gerações foram parando aos poucos de pensar, resistir e propor…o futuro era agora, já não temos tempo para planejar..uns participam, outros parasitam…escolhemos nosso lado.

O que é essencial em uma banda para se fazer uma música com sentimento?

Sentir man. A gente vive um momento de crise mental na geração 2.000. A facilidade para produzir “arte” hoje em dia causa um estopim na “cultura da celebridade”. Fica fácil entender o que precisa ser feito para ter uma banda de sucesso. Existe um desespero muito grande em recuperar o glamour do rock star, mas não a mentalidade dos grandes nomes da música. É preciso se desprender da carne e fazer música sem medo.

A grosso modo falando: olhe para os lados e reflita; não é sobre o que você vê, mas sobre o que você percebe dentro do que você vê.

Tenho visto algumas pessoas reclamando da cena carioca em entrevistas ou em conversas informais. O que é a cena carioca atualmente?

Existe hoje um ar de vamos voltar aos velhos tempos…O Rio vive um momento de muita movimentação política por conta da Copa e Olimpíadas. Novas casas estão abrindo, como o StudioRj…onde o Medulla toca com o Eskimo no dia 12/outubro…Vemos artistas independentes cariocas concorrerem a prêmios na Multishow e MTV e ouvimos na rádio um entusiasmo com os artistas locais.

Fomos convidados pelo Grupo Sal, para participar da nova temporada do Experimente da Multishow…é ótimo poder ser uma das bandas do Rio…junto com B Negão, Thalma de Freitas, Tono entre outros.

Fama ou liberdade? O independente é realmente independente ou a dependência é que gera a insegurança?

Hoje o mercado independente e o “grande mercado” mídias se misturam pelo envolvimento dos artistas. Os artistas apresentaram pro mercado novas formas de gerar grana e interesse do público…e fica bem visível a corrida que as gravadoras, grandes festivais, rádios, canais de tv, etc…estão para fazer parte também desse, até então, “sistema paralelo”.

Esse papo de fama sem liberdade é um conceito americano que colocaram na sua cabeça.