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Entrevista: Emicida

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Leandro parece ser um bom amigo. Quando atravessa a porta, tanto os funcionários quanto os jornalistas que o aguardam soltam um sorriso no rosto. Não parece sentir o peso e a responsabilidade que carrega com o nome Emicida dentro do renascido cenário Rap brasileiro. Trata isso não como um fardo, mas como uma conquista de um trabalho que sempre fez questão de dizer que foi braçal e ao lado de seus fieis companheiros.

– Quem mandou desligar e Televisão?
Diverte-se ao ver Max Fivelinha num dos programas reprisados da MTV.

O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui, um pomposo nome para um álbum de estreia mesmo com tantas mixtapes antes lançadas. “Produzir um disco é totalmente diferente de uma mixtape. Às vezes na mixtape eu vou lá e posso gravar sozinho, já fiz isso. Em um final de semana vou e faço. No disco não. Tem uma produção muito maior e eu quis isso! Trazer todo mundo para falar ‘não, vamos fazer isso, tirar aquilo’. Quando eu penso em álbum eu penso em contar uma história e acho que essa é a diferença maior”.

Os 6 meses de trabalho no álbum mostraram uma preocupação e amadurecimento no direcionamento da carreira e das suas músicas: “Tudo que eu não ponho são as questões que eu considero muito complexas, não só para o rap, mas para o público em geral”. Para ele, deve existe um tato para dar a direção nas músicas que serão trabalhadas, pensa que muitas vezes o “público não está preparado para ouvir isso, ou aquilo”e prefere buscar textos em rimas que não ganharam interpretação dúbias.

Esta preocupação pode estar ainda mais latente com a polêmica que envolve “Trepadeira”, faixa muito criticada por grupos feministas. Leandro sente a necessidade de dizer que nem tudo que canta precisa ser necessariamente a verdade dura das ruas: “É um flerte com a ficção, mas “nóis é o rap”. Vai doer em nós. Tem esse negócio de tudo que não for pautado na realidade dura das ruas é tido como um amolecimento na postura, quando minha luta é por liberdade acima de qualquer outra coisa. Não quero virar refém dos temas que já cantei e nem das pessoas que me escutam. Tenho que me manter livre para criar música que eu considere relevante”. Ele ainda revela que Tom Zé foi o primeiro a escutar a faixa e que o músico “chapou” com a música, o apelidando de Cão do Segundo Livro. “Elogio do Tom Zé!”, se orgulha.

Junto com seu crescimento vemos novas parcerias e produções do rapper. “Sempre chamei pessoas que estavam próximas do meu meio. Sempre tive parcerias com Rashid, Projota, Rael, Kamau… Quem estava junto mesmo”.

No caso da Tulipa Ruiz ele revela que quis fazer algo apropriado. Não poderia ser um convite qualquer, teria que ser algo que encaixasse perfeitamente e a composição de “Sol de Giz de Cera” foi justamente pensando nisso. A música, que tem a voz da sua filha, é mais distante do rap tradicional e revela um lado melódico pouco explorado em seus discos, mas presente em suas composições mais obscuras. Existem outras canções similares como um jingle para o Zé Gotinha feito por ele, escondido na história de sua carreira. “Vem para o Clube do Zé Gotinha…” mostrando afeto por poemas que não precisam ser tristes ou reais, como o de “Sol e Giz de Cera”: “Essa canção é algo para comover as pessoas de uma forma boa”.

Focado e objetivo, revela que fez canções pensadas para participações específicas. A participação da baiana Pitty era segredo, mas que a cantora revelou no Twitter antes da hora: “Eu queria fazer algo com a Pitty que realmente mostrasse a voz dela. Eu a admiro muito e acho que ela é uma das melhores compositoras atualmente. Era para ser surpresa, mas ela foi lá e postou. Ai já era!” Explica, rindo da situação.

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Assunto em voga nas últimas semanas, Emicida reconhece importância, mas não pontua que seu sucesso tenha sido somente pela Fora do Eixo, como o publicitário Pablo Capilé deu a entender em uma entrevista ao programa Roda Viva: “A gente realmente utilizou da plataforma e foi bom, foi do caralho. Mas sabe… Quando eu cheguei no Fora do Eixo eu tinha como negociar (…) não posso falar de proposta com Cubo Card porque eu nunca tive proposta do tipo ‘venha tocar para ganhar 8 mil Cubo Cards’. Duvido que eles tenham colocado arma na cabeça de alguém pra tocar.”

“Em Belo Horizonte, quando teve o lance da prisão, muito se falou em liberdade de expressão e perseguição do rap. Mas o que a gente queria é que as pessoas vissem a situação de Pinheirinho, de Eliana Silva, e das ocupações, incêndios em favela e isso foi pouco falado. As pessoas só noticiavam que fui preso. Temos que falar sobre como a música independente está. A gente precisa sair do mundinho de meia dúzia de banda de rock e o Fora do Eixo. O nosso panorama é imenso e isso ai não é a única opção de todas as pessoas”, explica tentando traçar um comparativo entre o macro e o micro.

Ao voltar a contar sobre suas canções ele esclarece que “Samba do Fim do Mundo” foi escrita há mais de 2 anos e não foi feita na época das manifestações. “Eu fiquei feliz pra caralho, porque tem esse negócio do exercício da democracia. Mas o que eu fiquei refletindo foi tipo, os caras tomam tiro na Paulista e são capa de jornal, ai policiais invadem a favela, matam as pessoas e vira nota?” E dispara: “Esse lance do gigante acordou… A periferia e o rap já acordaram faz tempo! Na verdade, nem dormiram porque se dormir é ateado fogo, como vocês podem ver”.

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“Mano… Mano…” Leandro se ouriça ao falar dos shows de divulgação do álbum. Atualmente sua banda é composta por 5 membros. Após testar formatos que foram de um único MC até Big Band ele confessa que encontrou uma formação que consegue trabalhar com guitarra, cavaco, violão, baixo, percussão e DJ, além de um cenário. Com show de lançamento marcado para acontecer nos dias 10 e 11 de Setembro, no Sesc Pinheiro, em São Paulo, ele confessa que a apresentação acabou pendendo para o samba, com cavacos e violão bem trabalhados. “Eu gosto de fazer show com MC e DJ, eu gosto de explorar formações diferentes, mas eu quero muito a quantidade maior de shows com a banda completa, tem outra textura”, complementa.

“Eu sou artista e sou vaidoso para onde minha música vai. Eu quero manter minha liberdade e para isso eu preciso abdicar de algo. Eu quis abdicar do meu tempo e mergulho numa coisa que não é fazer música, mas está ligado diretamente com fazer música”, revela o sócio da Laboratório Fantasma, uma espécie de selo e produtora criados por ele e Evandro Fioti para trabalhar sua carreira e que agora já se expande para novos artistas.

Questionado sobre o porque não disponibilizou o álbum para download, revela que gostaria que as pessoas acompanhassem seus vídeos no Youtube, resultando em uma quantidade maior de pessoas que assistiram o documentário de lançamento inteiro (que contém todas as faixas em streaming) do que as canções em separado. Com isso, logo no mesmo dia, revelou-se o sucesso: “O Glorioso” alcançou as primeira posições do iTunes.

Texto por Eduardo Araújo e Marcos Xi
Fotos por Ênio César

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