Entrevista: Dorgas
Já era noite quando eu saí da redação do site em direção a um pequeno estúdio na Barra da Tijuca. Eu seria a primeira pessoa que sabia o que é um acorde dissonante a assistir um ensaio do Dorgas. Garanto que me esforcei para tentar achar a porção adolescente que os jovens músicos deveriam ter em suas canções. Intrigado com o ato falho, resolvi entrevistá-los de maneira mais impessoal, e talvez até mais dura, arrancando-lhes os porquês desta surpreendente técnica musical. O resultado foi quatro homens decididos a brincar de Jukebox pelo resto da vida.
A pracinha onde se localiza o estúdio, em frente aos prédios e casas de luxo da Barra, lembra as fotos promo oficiais da banda – de fato, elas foram tiradas lá. Toda a minha ‘maneiragem’ e tentativa de deixar a banda desconfortável acabou resultando em uma amizade. A sinceridade e quase ingenuidade de Gabriel Guerra (Guitarra, teclados e voz), Cassius Augusto (Baixo, teclado e voz), Eduardo Verdeja (Guitarra) e Lucas Freire (Bateria e percussão) acabaram comovendo o entrevistador. O papo que começou às 21 horas e duraria apenas 60 minutos, acabou às 8 e 15 da manhã numa outra praça em Botafogo. O gravador já estava esquecido no bolso desde que acabou a bateria quando marcava 1 hora e 28 minutos de entrevista.
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Vídeo quase inédito de Intro+”Salisme”, na final do Festival NMB
Botaram nome de Dorgas, porrada de nome de música estranha… Como vocês querem se levar a sério com esses nomes?
Verdeja: Não tivemos essa intenção: “Bora fazer essa banda aqui e tal, o nome é Dorgas… Depois a gente muda…” E o ‘depois a gente muda’, não mudou. A gente foi rindo, rindo, rindo e ficou.
Lucas: Durante a gravação do primeiro EP, a gente ainda falava assim: “vamos pensar em um nome…” Isso é bacana, porque, quando você tem um nome ridículo como Dorgas, “Loxhanxha”, “Grangongon”, você abre o preço da dúvida. As pessoas entram pra ouvir nosso som, tipo… “tomar no cu, esse caras não são uma banda”…
Cassius: Nego olha o nome e pensa: “vou ouvir essa parada porque deve ser um anarco-punk ridículo”, mas o cara clica ali e fala “porra, é uma parada bem trabalhada!”.
Guerra: É, e eu gosto disso. As pessoas vão lá ao show, vão com a menor expectativa, e aí a gente tem que, com o nosso trabalho, gerar surpresas.
Cassius: E sobre a questão de se levar a sério… A gente nunca teria uma banda com um nome sério, com nomes de músicas sérias… A gente não é assim, sabe. Esse é o nosso jeito de se levar a sério.
Então o Dorgas usa o ‘fator surpresa’…
Guerra: Exatamente.
Lucas: E usa o fator ‘a gente’, a intenção é ser a gente. Essa porra chegou na zoeira e já fizemos um ano…
Cassius: Não é uma zoeira estudada, é uma zoeira natural.
Guerra: Mas também não é nenhuma regra. Nós mesmos podemos nos dar nomes sérios.
Porque Verdeja Music? É um disco mais voltado ao Eduardo Verdeja?
Guerra: Você já viu uma sonoridade melhor que o nome ‘Verdeja’? A gente botou o nome dele de sacanagem, porque quando brincávamos nos primeiros ensaios, o Verdeja sempre era o mais virtuoso, e esse disco é… não é mais virtuoso, mas um pouco mais técnico.
Cassius: No início, a gente tinha uma idéia muito esparsa que eu e Guerra conversamos numa van voltando da Lapa, que seria botar um EP no nome de cada um. Isso foi há muito tempo.
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A banda lançou uns vídeos caseiros das gravações do single e Ep
Vocês começaram a fazer o EP sem finalizar totalmente as músicas. Não rolou um medo de gravar um trabalho sem ainda ter terminado?
Guerra: Não é que a gente não tinha terminado, mas a gente sabia como elas eram.
Lucas: A gente tava ensaiando e pô, ‘vamos ensaiar as músicas no vamô-ver?’ Começamos a ensaiar com um baixista e o cara saiu. Então entramos no estúdio sem baixista e também não tinha teclado.
Verdeja: A gente chegou a cogitar de chamar um tecladista.
Guerra: Mas a gente pensou “é melhor deixar nós quatro mesmo, já funciona bem assim…”. Se não vai ter que reformar a química entre a banda…
Cassius: E ter que tipo inventar coisas novas pro cara novo fazer, onde ele vai entrar, como ele vai fazer… aí o cara vai ter que experimentar nas músicas…
”Guerra sobre como Cassius tocava quando entrou na banda: ‘Você era como um patinho: Andava, nadava e voava, mas tudo uma merda!’”
Quando vocês lançaram o Verdeja, já esperavam o sucesso que fez?
Verdeja: Porra nenhuma. A gente divulgou zero.
Guerra: Tudo que a gente fez nós não divulgamos. Agora que começamos. O Bloody Pop que divulgou a gente.
Lucas: Quem deu o pontapé inicial foi o Cláudio, da Trama.
Cassius: A gente começou a divulgar agora, divulgou o lançamento do single e divulgando mais show.
Vocês começaram a fazer um trabalho mais técnico no Verdeja Music, e depois lançaram um single de dois acordes… Há preocupação de deixar as músicas longas e houve preocupação de colocar simplicidade no novo trabalho? Como funciona esse processo criativo?
Guerra: A gente não é uma banda pronta de compositores. Então tudo que a gente faz é dentro de um estúdio. A gente nunca grava demo, por exemplo. Ninguém chega com uma composição pronta. No máximo, chego com uma ideia muito pequena e vai abrindo… A gente nunca sabe como vai terminar a música e nem tem noção do tempo que tá fazendo.
Verdeja: Vamos dizer, o Guerra chega com uma ideia e a gente faz um ‘drone’ daquilo. Toca em cima, para um pouco e reflete: “tira mais assim, faz assim aqui…”. A “Dito Antes” a gente achava que era 4 minutos, deu quase 6.
Lucas: Já existia um projeto de “Bruff” e “Salisme”. O Guerra nos mostrou no estúdio e a gente pensou “puta que pariu, o que vamos fazer com isso?”. Agora a gente chega, começa a tocar, pega uma coisinha aqui e ali. Nossas músicas são criadas basicamente em diálogos entre todos nós. Verbal e musical. Eu acho esse nosso processo criativo muito foda.
Cassius: Esse processo de cada um chegar e dar um pouco eu achava que não ia funcionar a princípio. Era uma parada que eu tinha medo, que ia soar perdida, mas que bizarramente deu certo.
Guerra: Por isso que é mais democrático. E acho que é por isso que teve esse toque mais simples, quando você vai fazendo esse negócio mais democrático, você acaba abrindo espaço mais pro outro.
Se pronuncia ‘Loxanxa’? Eu cheguei pensando que era ‘Losxitarrancha’. Sei que essa música tem uns detalhes sutis…
Guerra: “Loxhanxha” surgiu de uma jam. Os dois acordes e a linha de baixo… eu tentei mudar várias vezes, mas não consegui. Já tinha uma base bacana e fomos com ela para vermos o que aparecia.
Cassius: Essa linha de baixo foi uma das primeiras coisas que eu fiz quando peguei um baixo emprestado com um amigo – na época da gravação do Verdeja Music. Quando voltamos do estúdio, esse riff foi a primeira música que me apareceu. Eu só tocava violão em casa, por isso que eu entrei só como vocalista.
Verdeja: Quando acabou o ensaio em que criamos a música, falei: “aí Guerra, inventa um nome!”. Contamos até 10 e o moleque… “Loxhanxa!”
Cassius: ‘Loxsitarrancha’ sou eu que falo na gravação.
Guerra: A gente gravou vários backing vocals e cada um foi falando de um jeito.
Lucas: Nem dá para ouvir direito na hora que eu falei “pegaram o cara de fuzil”… (risos) Eu fiquei esperando os moleques em Botafogo. Fui num boteco, comprei um copo de whisky barato, e quando eles chegaram eu falei: “Vou gravar o backing vocal!” Foi o último dia de gravação, eu não ia fazer nada, tava lá à toa.
Guerra: Aí vou te dar um furo, nem os caras da banda sabem. O teclado inicial de “Loxhaxha” é roubado, nem é copiado, é roubado de um clássico da house music chamado “Living Without Your Love”!
Vocês fizeram a “Dito Antes” e colocaram como Lado B. Porque que ela entrou como B-side?
Lucas: A gente chegou no estúdio e só iríamos tocar “Loxhanxha”. Mas teve uma hora, que os malucos estavam arrumando uma parada na técnica, e eu e Verdeja estávamos na salinha de instrumentos. Aí o Verdeja começou a tocar “Dito Antes” e eu comecei a tocar também. O Guerra viu, o Pedrinho veio junto e falou “fica bom ao vivo isso, né?”. Aí a gente “É, fica. Rola gravar ao vivo?”. “Rola, vamos gravar agora.”. A “Dito Antes” é ao vivo, mas a “Loxhanxha” não. Pra gente também foi uma surpresa.
E depois de “Dito Antes”, irá passar a ter nomes normais nas músicas?
Cassius: Talvez sim, talvez não. A princípio, não. O próximo single a sair será um nome mais estranho que “Dito Antes”.
Lucas: O nome “Dito Antes” não tem nada a ver com a música. O nome dela era “Dissonantes”. Ela começou na intro, que era dissonante. “Vamos tocar aquela dissonante…Vamos fazer aquela Dissonante…”. Aí quando a música já tava pronta, começamos a chamar de “Dito Antes”.
Guerra: Porque as pessoas falavam “vocês só fazem nomes estranhos” como se fosse algo indulgente, tipo como se a gente só quisesse dar nome estranho, então vamos mudar aqui, só pra quebrar.
Até eu mesmo caí nessa e fui lá na matéria e disse algo como “começa a ganhar ares mais sérios”, mas era mais uma zoação dos caras…
Cassius: A gente ficou amarradão, porque ia ter “Dito Antes” e nego ia achar que ia pra algo mais sério… e o próximo single vai ser algo tipo “Grangongon”…
Guerra: Mas o próximo vai ser “Fez-se Cristo”…
Verdeja: Essa é tipo a “Dito Antes”. Antes era “Fiz o Cris” e ficou “Fez-se Cristo”.
Cassius: Ficou tipo uma coisa religiosa…
Guerra: É muito ‘over’ ter uma música com nome de “Fez-se Cristo”! Foi uma das primeiras coisas que a gente fez depois que terminou o Verdeja Music, pra dar um toque mais democrático na banda. Não é uma música técnica como a “Bruff”, onde as guitarras vão indo aqui e ali… Você pega uma música como “Fez-se Cristo”, onde quem dá o tom pra ela basicamente é um riff de baixo e as guitarras não tão trabalhando num tempo certo. Tem uma hora que entra no 2, outra que entra no 3… Aí, ao invés de colocar mais uma nota, muda o tempo…
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Vídeo de “Grangongon” na seletiva do festival NMB, a qual eles ganharam
Sei que você, Lucas, vai tocar com o Sobre a Máquina…
Lucas: É, eu to convidado para gravar um EP com eles. O convite tá aí, eu não neguei não. Mas a gente não está conseguindo ensaiar.
Pode se dizer que a banda não tem líder?
Guerra: A primeira coisa que a gente queria é que a banda não tivesse líder.
Lucas: O frontman ali é o espírito do ‘Luiz Salisme’…
Certo, quem foi Luiz Salisme?
Lucas: Foi um parceiro nosso que faleceu.
Cassius: É um cara que todo mundo daqui adorava.
Verdeja: Ele tem um profile no orkut, tem poucos amigos, mas vê lá. Mas não adianta que não vamos falar mais nada sobre ele além disso.
[não acreditem em tudo que lêem]
As capas dos álbuns de vocês, como foram? Vocês jogaram no aleatório do Flickr?
Guerra: A do Verdeja Music tem uma história, um conceito. Foi num blog que eu estava. Na hora, eu estava ouvindo as prévias, vi a imagem e aquela pequena ilha com todo o tipo de árvore… E é basicamente isso o Verdeja Music: todo o tipo de coisa num negócio pequeno. Estávamos sem capa na época, expliquei o conceito e foi.
Lucas: Agora, a capa de Loxhanxa não tem o mínimo conceito!
Verdeja: É, um amigo chegou com uma sugestão de capa. Aí eu olhei e achei foda. Um amigo de um amigo nosso que tirou. Entramos em contato com ele e pedimos, ele deixou. Aí colocamos o nome dele nos agradecimentos.
Guerra: A foto é muito estranha. Foi num zoológico em Buenos Aires.
Verdeja: O cara tava passando, viu a cena, procurou uma câmera e tirou a foto.
Lucas: Uma Lhama de cada cor, uma olhando prum lado, outra pro outro e a outra pro outro e uma porra de uma bola no meio…
Verdeja: Perguntei pra ele sobre a bola e nem ele soube dizer o que era.
Como nasceu a sonoridade da banda? Foi combinado?
Guerra: Se tinha uma coisa que a gente não queria fazer era isso.
Verdeja: Bem, começou com o Guerra me chamando para ir na casa dele. O Guerra tem uma fascinação mágica por reverb e ele tocava no corredor do prédio dele, que tem uma reverberação ótima! Isso foi muito importante para a formação da banda. A gente sentava lá com dois amps cuzentos, com jack fudido, cabo fudido… colocavamos uma havaiana em cima do benjamim para ficar ligado. A gente podia tocar indeterminadamente, além dele morar do meu lado.
[Uma outra forma de entender de onde a sonoridade do Dorgas vem é ouvindo a antiga banda do Guerra, Garageiros do Abismo]
Como é a educação musical de vocês?
Guerra: Eu toco desde os 9!
Cassius: Eu toco desde os 10 anos, quando meu tio me deu um violão. Ganhei uma guitarra com 13, 14 anos… Aí tive a primeira bandinha, que era cover, na escola. Tinha eu, um moleque que gostava de Metallica, um cara que gostava de Iron Maiden e outro de Nirvana. E aí na hora de tocar um cover eu falava “vamos tocar uma do Radiohead!”, e eles “Que porra é essa?”. No segundo show, eu tava meio puto com eles, aí eu falei: “Vou tocar uma música aqui que vocês não conhecem, vê se me acompanham”, e toquei “Metal Heart”, da Cat Power. Aí os muleques falaram “que música escrota, vamos embora”, e foram embora do show enquanto eu tocava a música!
Verdeja: Eu toco há 3 anos. Eu só estou tendo hoje uma educação musical mais formal. O professor põe dever pra caralho. Aí eu faço um pouco e penso, “é tudo igual, deixa pra lá”. Aí chega na hora e ele: “Porque tu não fez o resto do exercício? Por rebeldia ou achou que não precisava fazer?”, aí eu “ai… caralho…”
Lucas: Eu fiz um ano de aula. Quando eu fazia aula de bateria, fiquei amigo do maluco que dava aula pra mim e do cara que dava aula de guitarra lá no curso. Aí tinha um estudiozinho que ficava lá, chamava o cara da guitarra e fazia uma hora de jam. Nunca mais eu tive aula, era só jam.
Jam ao vivo na Casa do Mancha, em São Paulo, junto com Inverness e Holger
Quais e quantas músicas vocês já tem?
Guerra: Tem várias que não estão formadas. Que eu posso falar: tem “Grangongon”, “Bonitinha”, “Vaanderglock”, “Dito Antes”, “Salisme”, “Bruff”, “Ostóquix”, “Fez-se Cristo”. É, a gente já lançou no set essas 8.
“Lucas: “Vaanderglock” é sobrenome de holandês, só que com a arma!”
E no que o Dorgas abriu a cabeça de cada um de vocês?
Guerra: Pra mim? É… acho que não sei…
Verdeja: Você aprendeu a ser mais democrático.
Cassius: É! Exatamente. Conviver com um grupo e respeitar os outros. Te deu uma tranqüilidade… Lembro que quando a gente saiu você falava “porra, fico puto com essas bandas… essa banda escrota aí…” Você era muito incomodado, agora você ta mais feliz.
Guerra: É… Eu era mais enfezado… mais crítico.
Cassius: Eu não tocava porra nenhuma… mas agora aprendi a tocar uma parada (baixo)! Pô, pela primeira vez eu tive uma banda de algo que eu queria tocar. Queria tocar numa parada que fosse mais autoral e menos referencial. Eu sempre tive convivência com uma banda de uns amigos meus que tocam muito e eu sempre fui meio ruim e eu agora to aprendendo a viver com as dificuldades técnicas e com o mínimo para fazer as paradas melhores.
Lucas: Eu toco tem muito tempo, desde os 14… tenho 21… (contando nos dedos há quantos anos toca…). Sempre tocava com bandas. Quando eu era pequeno eu ouvia muitos grunges assim… Depois toquei com banda mais metal, pop-rock, alternativo bizarro, indiezinho pop, jazz, a maioria banda cover… Já passei por muita coisa. Nada me deixava… “caralho… tenho uma banda foda e vou botar pra fuder. Investir, me dedicar…” e dessa vez rolou isso. Acho que pra todo mundo tá rolando muito isso. Eu achava que conhecia bastante de música, só que eu não conhecia quase nada. O Guerra pra mim foi tipo… Em questão de conhecer música ele praticamente dobrou meus conceitos… Agora eu to mais aberto. Se você chegar e falar tipo “não curto bossa”, tem que sair dessa. Moleque tem muito disso, de dizer que só curte A, B e C… Eu já não tava tão quadrado quando entrei pra banda, mas agora eu to muito mais redondo. Hoje em dia eu ouço músicas que a anos atrás eu nunca estaria ouvindo. E como instrumentista também. Está me fazendo aprender a pensar bateria como uma coisa mais que uma bateria profissional. Eu fiz muito pouco de aula de bateria. Tocava pouco em casa por causa de vizinhos. Eu era um baterista totalmente tosco, sem métodos de tocar… Agora eu tô vendo que isso tem um valor do caralho. Não que se tivesse estudado pra caralho, cheio de técnicas e tal seria ruim, mas seria muito diferente do que está aí. O que sai aí eu não sei o método. É melhor do que ter um modus operanti. Tudo ali são estímulos. O Verdeja, o Guerra e o Cassius são estímulos a me fazer pensar nos instrumentos diferentes.
Verdeja: É, o Dorgas é minha primeira banda séria. Antes eu só tocava 5 notas… O Guerra abriu minha cabeça e eu comecei a tocar com ele direto… As vezes era meio ‘Blues notes’. Antes do Dorgas eu tinha uma banda com uma galera do colégio. Só música cover mesmo, durou 3 meses… O primeiro show do Dorgas foi o primeiro show que fiz em casa de show, e não em escola… Cara, eu achei que ia ficar mais nervoso… Ficava até brincando com eles que ia vomitar no palco no dia. No dia do show, cheguei pro Lucas e falei “caralho, acho que vou vomitar”, só que eu falei serião e eles acharam que era sério!
Tocando “Revellon” com os Ecos Falsos Ao Vivo
Vi que assim que saiu o Verdeja Music, o Gustavo Martins do Ecos Falsos foi um dos primeiros a falar e a indicar a banda. Qual a relação de vocês e os Ecos Falsos?
Guerra: Eu sou muito amigo dos caras. Quando eu tinha uns 14 anos (o que não tem muito tempo), eu já ouvia bandas independentes brasileiras e acabei virando o mascotinho do Ecos Falsos. Eu era o moleque que ficava na comunidade, enchendo o saco… Até hoje eu troco ideia com eles e os encontro quando eles vem pro Rio. O Gustavo odiava minha antiga banda.
Cassius: Ele também não gostava da minha banda, que foi por acaso onde eu conheci o Guerra. Lembro que comecei a conversar com o Guerra, que era amigo de amigos meus, daí ele passou minha antiga banda para o Gustavo. Aí o Gustavo falou algo tipo: “pô, a música é meio escrota, mas esse vocalista é uma merda” e o vocalista era eu. (risos) Eu achava ruinzinha, mas não uma merda. Hoje eu vejo que ele tava com a razão e tava mesmo uma merda!
Quando foi que vocês bolaram com a repercussão do Dorgas?
Guerra: Acho que o dia que eu mais fiquei bolado foi logo depois que lançamos o Verdeja Music. Passou uns 3 ou 4 dias… eu tava num ônibus e toca o telefone: “Caralho, moleque, tu não sabe o que aconteceu! A gente está em destaque na Trama Virtual, em primeiro lugar do Top 40!” Tipo, a gente não divulgou nada. Esses dias aparecemos na MTV e com isso a gente sabe que vai gerar um burburinho, mas o negócio da Trama… 10 mil nego posta música ali todo dia e do nada a gente ali. Matéria, destaque e Top 40. E eu acho que o nome ajuda nisso. Você olha o nome de uma banda e tipo… Não é possível que com o nome de Dorgas seja bom…
Cassius: Tem tipo 10 mil artistas, todos com nomes sérios, fotos sérias, com nego cabeludão… A questão é: com o Dorgas você não sabe o que é. Você vê uma banda com certo nome que você sabe o que é. Você vê a banda e sabe o som que eles são. Às vezes o nome é tão forte que você nem precisa escutar a banda. Aí tu chega na Dorgas, que tinha foto de um moleque tocando flauta em Santa Tereza…
Lucas: A foto da banda era de um cara que não era da banda. O cara que gravou a flauta em “Salisme”, o Léo Bicicleteiro, era quem estava na foto da banda.
E os próximos lançamentos?
Guerra: Até o final do ano a gente vai lançar mais 2 singles ou EP e fazer uma espécie de coletânea com as músicas já lançadas. Eu sou romântico quanto a gravar um álbum. Tem que ter um certo período e fazer uma coisa muito em grupo. A gente fazendo música indo e parando é uma resposta dos tempos. Se pegar “Bruff” e “Salisme” não tem nada haver com “Loxhanxha”. Nem é porque foi uma questão pensada, era aquela a hora de fazer aquele tipo de música. Também não é questão de maturidade, mas sim de qual é a sua cabeça naquele momento. Um álbum tem que ser algo muito bem pensado, tem que pensar nele como um todo e não como um bando de canções. Iremos nesse esquema (de singles) até pararmos para pensar num álbum. A gente nem pensa num prazo.
Lucas: Pra gente fazer isso, pra esse jeito que fazemos as coisas, vamos precisar de muito tempo e dinheiro. Uma coisa é tu fazer 3 músicas ensaiando e gravar um EP, outra é você fazer 11, 10 ou 9.