Dead Fish e Gigante Animal @ Circo Voador – RJ 26/03/10
Mais um show do Dead Fish, no Circo Voador. O segundo, na casa, após o lançamento do Contra Todos, o último álbum da banda. Parece até tradição o Dead Fish tocar no Circo Voador durante essa época do ano. Tem sido assim há alguns anos. E, como sempre, existe aquela sensação de que “dessa vez não vai ficar lotado”. Ah, meu amigo, como você se engana ao pensar assim.
A abertura foi da Gigante Animal. Olha, eu confesso, tenho vários preconceitos (todo mundo tem, tá?). Um deles tem a ver com bandas de abertura. Às vezes eu as assisto com má vontade, já que eu paguei pra ver a atração principal. Mas esses caras surpreenderam. Com arranjos simples, mas ousados na medida certa (do jeito que eu gosto), e uma bateria meio “Mogwai jazzístico”, assisti ao show inteiro, sem sair do lugar. Por enquanto, eu recomendo o show deles, porque ainda não cheguei o conteúdo que eles disponibilizam na rede. Mas é uma recomendação com vaaaaaárias estrelinhas. Vão atrás, façam-se o favor.
Agora, antes de falar do show do Dead Fish, eu gostaria de falar sobre mim. Acho que eu pulei uma fase da vida de um (pré) adolescente que não gosta de pagode. A fase do hardcore. Em 2003, na minha oitava série, o pessoal se amarrava em Rancid, Bad Religion, alguns tinham acabado de conhecer Anarchy in UK, e eu nem tchum. Pra mim, tava surgindo o Kings of Leon e os Strokes tavam lançando o Room on Fire, e havia também o Tunai que a minha mãe escutava. Até conhecia os Garotos Podres e o Gritando HC, mas sempre tive um maior respeito pelo Dead Fish, por conta da história deles, da força de vontade de tentar vencer à sua própria maneira no mercado brasileiro (que mercado brasileiro, hein?). Mas não ouvia suas músicas. Que erro. Graças a 15 míseros reais, e ao Circo Voador, fui a um dos melhores shows da minha vida, onde tocaram Matanza, Ratos de Porão, Mukeka di Rato, Coléra e o citado Dead Fish. A minha vida mudou.
O show do dia 26/03 (sexta-feira última) não foi diferente. Não se pode dizer que o público vai para assistir ao Dead Fish. Olhando para a platéia, vê-se que muitos nem olham para a banda, mas a letra sempre está na ponta da língua. Banda e público se misturam, quase formando uma sociedade (que dura o tempo do show) onde não há maldade, cujo objetivo é cantar gritando ou gritar cantando e espalhar os ideiais para quem quiser aderir, ao mesmo tempo em que se extravasa aquela semana sacal.
Vendo de fora, você tem vontade de fazer parte dessa energia. Há de tudo: brancos, negros, tatuado-do-bem, tatuado-from-hell, playboy, meninas, caras que parecem velhos demais, caras que parecem jovens demais, mães, skatistas… TODOS OS TIPOS. A camaradagem vai além da imaginação: vascaínos, tricolores e flamenguistas (tinha até um cara com a camisa do Barcelona, hehe) se tornam AMIGOS. Se alguém cai durante o bate-cabeça, sempre tem alguém pra estender a mão.
Abrindo com a intensa “Autonomia” passando por quase todos os cd’s, como é de praxe (tocaram até “Um Homem Só”, veja você), fechando com “Venceremos”, foi um set list para agradar a todos que acompanham a banda. O vocalista, Rodrigo, nem precisa cantar, tamanho é o coro em todas as músicas. Aliás, em uma das músicas, ele passou o microfone a uma menina, que além de cantar, pôde passar seu recado ao pessoal.
Se você, assim como eu, não conhecia a força dessa “família”, pode crer que será bem aceito se quiser participar. Onde você é o astro, e a banda coadjuvante? Só no Hardcore do Terceiro Mundo.
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Fotos: Juliana Ribeiro
Texto: Egon Lessa