Da saga Abril pro Rock: Amanhecer
Divulgadas as 11 atrações da primeira noite do Abril pro Rock, há aproximadamente um mês atrás, observou-se uma mescla de artistas de regiões, sons e públicos heterogênios, algo já esperado. Porém algo trazia a sensação insegura de dissintonia entre as atrações que compunham a grade do festival, não nos fazendo esperar uma noite recheada de novidades. Contudo a magia de um evento deste porte e de suas extensas e bem conceituadas 22 edições fez do inesperado um pretexto para garantir uma noite menos amarga quanto se esperava.
O paraense Felipe Cordeiro, um dos grandes prejudicados pela escalação das bandas, fez uma apresentação enérgica e deveras animada iniciada somente às 2 horas da manhã, após os shows longos, cansativos e arrastados de Tulipa Ruiz e da estadunidense Sebadoh, e das apresentações contagiantes da Orquestra Betodélica e de Johnny Hooker – talvez responsável pelo maior público da primeira noite do festival. Bárbara Eugênia também teve seu brilho com direito a Rafael Castro tocando guitarra e Astronauta Pinguim nos sintetizadores compondo sua banda, conseguindo animar bastante o público. Infelizmente a sensação é que eles talvez não estivessem no ambiente certo para seu show mais calminho. Talvez no Coquetel Molotov, que é sempre num teatro, a apresentação aconchegasse mais.
Trummer Super Sub América, projeto novo encabeçado pelo líder da banda pernambucana “Eddie”, dois integrantes da soteropolitana “Vivendo do Ócio” e o cearense Daniel Groove chamaram a maior atenção do público que chegou mais cedo e se deslocou ao palco intimista. Foram shows curtos, entretanto valiosos, numa área distante do grande palco principal do Chevrollet Hall, onde estava atracada a linda Rural do Roger Renor servindo apenas de cenário, sem apresentação do próprio Roger, sem o famoso dançarino da Rural, sem o piso quadriculado e com caixas e mais caixas de som. Tudo fora do comum.
Autoramas e Renato Barros, líder da banda mais antiga em atividade no Brasil (Renato e seus Blue Caps), tinham um dos shows mais esperados da noite, mas foram também gravemente prejudicados pelo horário tardio e pela péssima qualidade do som estourado e, em contraponto, o baixíssimo volume da guitarra e microfone do Renato. Às 4 horas da manhã deu-se o início e, a essa hora, poucos foram os que ainda conseguiram acompanhar o pitoresco tributo a Reginaldo Rossi. O show ainda foi marcado pela crítica do pernambucano Johnny Hooker, dizendo-se humilhado pela produção de palco que teria xingado-o por estourar o tempo em sua apresentação solo, pouco antes.
Em suma o Abril pro Rock teve sua 22ª edição marcada pelas boas apresentações em si e não pela estrutura e organização recheada de equívocos que, esperamos todos, sejam o ponto de partida para um cuidado maior na próxima edição, principalmente com relação à quantidade de artistas a se apresentarem no mesmo dia, a duração de seus shows e suas respectivas escalações.
Todas as fotos por: Igor Marques