Criolo @ Music Hall, Belo Horizonte-BH 23/03/2012
De vez em quando surgem artistas no cenário independente nacional que chamam a atenção de toda a mídia especializada de uma maneira arrebatadora. Dizem que é assim que nasce o hype. Independente de ser o grande nome do momento, o rapper Criolo segue forte no caminho de mostrar que é bem mais do que apenas o cantor favorito de todos os tempos da última semana de Chico Buarque, Caetano Veloso, e praticamente todos os grandes veículos especializados em música. Com mais de 20 anos de trajetória e um disco de despedida que acabou se transformando no seu renascimento musical, Criolo passou a lotar apresentações (como aconteceu recentemente no Circo Voador, no Rio de Janeiro, quando mais de 3000 pessoas se esmagaram para conferir de perto a apresentação do cantor) e atrair todos os tipos de público, daqueles que acompanham sua carreira há muitos anos, passando pelos que ficaram “chapados” com a beleza de “Não Existe Amor em SP”, e também aqueles que simplesmente ficaram curiosos em descobrir quem é esse tal de Criolo.
O Criolo é um artista que se transforma. Aquele homem que subiu ao palco do Music Hall, em Belo Horizonte, na última sexta-feira, 23, não lembrava em nada o cara que pregava o amor durante uma apresentação incrível na Praça do Papa, também em BH, em setembro de 2011. Ele tampouco lembrava o vocalista sério e objetivo que tocava suas músicas para um público “sucrilhos” durante o Festival Terra, de 2011. Desta vez ele não falou sobre o amor, sobre o homem se perder no meio da selva de pedras, mas não poupou energia ao gritar, pular e gesticular durante o longo show realizado na capital mineira. Não faltaram músicas do elogiado cd Nó na Orelha e também canções mais antigas, como “Cerol”, “Demorô” e “Vasilhame”, além da tradicional versão de “Cálice”, de Chico Buarque.
A abertura da noite ficou na responsabilidade do Julgamento, que assim como o Criolo, faz um rap interessante e que privilegia o trabalho da banda de acompanhamento, que tinha uma pegada influenciada pelo som do Rage Against the Machine. A dupla aproveitou a oportunidade para fazer o seu protesto contra o que aconteceu recentemente em Pinheirinho, em São Paulo. Admito que nunca fui fã de rap ou mesmo um grande conhecedor do estilo, mas não há como ignorar a qualidade dos artistas do gênero quando eles se permitem fugir do convencional e expandir todo o seu discurso. Infelizmente o show do Julgamento foi interrompido na última música, frustrando a banda e a maioria das pessoas que estava apreciando o show.
Antes do Criolo subir ao palco, me peguei numa discussão com John Pereira, editor-chefe do Audiograma, para conversar sobre como é que seria uma boa maneira de se analisar a apresentação de um dj. Ouvia com atenção as técnicas de Roger Lee, as músicas selecionadas e a maneira como o público respondia, mas concluí que escrever sobre um dj é complicado demais e agradeci pelo fato de preferir comentar trabalhos orgânicos, ainda que um dia ainda pretenda estudar o trabalho dos profissionais das pick ups e saber exatamente o que é bom ou ruim. Pelo menos na lista de músicas, o cara acertou. Evitou a farofada tradicional e partiu para agradar especialmente ao público cativo dos eventos hip hop.
Outra mudança perceptível na apresentação do Criolo ficou clara logo no começo das primeiras notas de “Mariô”. A banda está muito mais entrosada e as músicas amadureceram muito, permitindo que os músicos improvisassem sem dó. Logo começaram a emendar outras faixas de Nó na Orelha, como “Grajauex”, “Subirusdoistiozin” e “Samba Sambei”, que foi o suficiente para mostrar para a banda o quanto os mineiros estavam ansiosos por um show do Criolo na cidade. A animação era evidente, especialmente na forma como a pista pulava, dando aquele efeito de onda. Eram os Mc`s dividindo espaço com uma galera completamente diferente, o que combinava perfeitamente com a sonoridade eclética do cantor, que combina samba, rap, bolero e rock nas suas canções.
Os arranjos diferentes ficaram muito bem feitos, especialmente nos solos de “Não Existe Amor em SP”, que poderia ter sido o melhor momento da noite se não fosse pelo solo arrasador do saxofonista Thiago França, durante “Bogotá”, música que encerrou a primeira parte do show. Parecia que o show realmente tinha acabado, mas a banda retornou e passou a tocar as canções antigas e que embora não tenham sido gravadas da mesma forma de Nó na Orelha, acabaram entrando no clima e receberam um tratamento diferenciado, especialmente “Vasilhame”, uma das melhores letras de Criolo, que além de ter feito um dos melhores discos do ano passado, segue em frente para conseguir também uma chance de disputar o título de melhor show. Pelo menos ele já assegurou o caneco de “show mais concorrido”.