Colombia Coffee @ Cabaret Loud Malabares Rio 2010, Lapa RJ 18/12/2010
Algumas pessoas se orgulham de curtir uma banda a alguns anos ou ter ido a todos os shows da turnê de certo álbum, estampando como troféus ingressos de grandes casas de shows de sua cidade. Meu orgulho é poder acompanhar uma banda desde o início e vê-la crescer, ganhar mais espaço e nome, amadurecer seu som e seu caminho na longa estrada do rock n’ roll. Aí vai a minha dica: nos locais mais obscuros da cidade é que começam a brotar as bandas que habitarão nossos players muito em breve – se é que já não estão lá.
Nas entranhas da Lapa, mas precisamente na Newronio Malabares, onde rolou Cabaret Loud Malabares Rio 2010, eu vi mais uma banda dando um pequeno passo e encurtando um longo caminho. A Colombia Coffee parecia estar em casa, no quarto ou na garagem. Aqueles amplificadores ligados no talo, soltando microfonias para todos os lados e de todas as formas. Uma mesa de som de 4 canais que impediram ligar mais de um microfone, os sinths e o megafone da banda; aquela bateria ambulante colocada num chão sem tapete… Tudo Old School de mais, na forma mais rock n’ roll possível.
Enquanto o momento in flames não começava, a guitarrista Débora brincava de Kevin Drew e lançava repetidamente o riff inicial de “7/4 Shoreline” do Broken Social Scene – e parece que foi o espírito desse grande músico que esteve com ela. Na primeira vez que estive numa apresentação do trio, sua guitarra estava meio apagada naquele micro palco da Roqueadores e até destilei uma crítica sobre a forma de tocar da jovem. Talvez como uma vingança involuntária, a bela moça desenhou riffs e levadas estonteantes, que deixaram a mim e ao Marcelo Perdido (figuraça da banda Hidrocor e do programa Tem Uma Banda Lá Em Casa, da MTV) desnorteados, exclamando frases como ‘ela é o Tom Morello feminino’, vide a segurança que executa as linhas de “Hey Hey”, canção de abertura do show.
O público inflama, canta, dança e grita para os músicos. O show é no chão, o contato é direto e o calor é forte. Sente-se na pele o suor seu e dos outros que encostam em você enquanto dança. A frenética “Cine Ideal” vira quase um bate-cabeça e “Bons Amigos” tem um final que beira o shoegaze só pela maneira antiquada que os amplificadores são posicionados. Os mais fãs do grupo arriscam cantar “Ainda Há Mistérios Nessas Calças e Blusas”, mas é no single “As Coisas Que Ela Diz” que você vê o público ‘in loco’, indo literalmente a loucura junto com os músicos. Teve inclusive um sortudo anônimo que tocou “House of Jealous Lover”, do The Rapture, no cowbell, fazendo um dos momentos mais divertidos da noite – tamanha a destreza no instrumento nas mãos do ilustre desconhecido.
Apesar do show curto (caberiam ali mais umas 10 músicas no mínimo, sem o público cansar) foi intenso e surpreendente, digno de boas lembranças. Se a banda já alcança um belo público assim, antes mesmo de ter um EP ou LP oficialmente lançado, quem dirá quando o país todo tomar conhecimento do trio que coloca um público pra dançar num local a 40° sem ventilador dentro de uma esquina qualquer do Rio de Janeiro.
Nem a concorrência da Pitty gravando dvd no Circo e o Nando Reis lançando álbum na Fundição espantou o público. Aposta certa de Rafael Ramos, boa mira da Sempre Vigilante.
Fotos por Alexandre Carvalho.