Há dois anos, Cícero e Baleia se encontravam no Circo Voador em uma noite memorável. Era o segundo show do disco Sábado e o público do jovem Cícero ia se moldando aos poucos à nova era mais experimental do jovem músico carioca. Já o Baleia vinha arrebatando as críticas com seu aclamado trabalho de estreia, Quebra Azul, lançado no fim de 2013. E, sem dúvidas, os shows foram incríveis.
A dobradinha se repetiu na sexta (22), mas em atmosferas diferentes. Cícero fez seu segundo show do disco A Praia no Rio – disco solar com gosto de mar, porém feito em São Paulo em 2015. Agora com um público mais concreto, o cantor carrega em um álbum a junção dos dois anteriores (Canções de Apartamento de 2011 e Sábado de 2013) formando uma espécie de ligação, uma continuidade que junta as duas atmosferas de sua discografia.
Já a banda Baleia lançou seu segundo trabalho, Atlas, mês passado e já claramente percebe-se uma enorme diferença em relação ao Quebra Azul. Mais maduro e seguro de si, Atlas é o amadurecimento de uma banda bem certa do que quer no cenário alternativo brasileiro.
Eram 23h30 quando o sexteto da Baleia subia ao palco. A iluminação do show era nova com diversas lâmpadas voltadas para o público causando um efeito de explosão, em outros momentos ela se apagava tornando o ambiente introspectivo. O segundo disco, estava pela primeira vez no Rio e o lançamento foi o esperado. Bruno Giorgi (produziu os dois discos da Baleia) comandou a mesa de som e proporcionou uma experiência sonora com qualidade semelhante ao ouvido no disco.
Atlas tem outra cara ao vivo. Diria até melhor. O ponto alto foi “Duplo-Andantes” e “Motim” que, como sempre, tira todos do chão. A mescla com músicas dos dois discos ainda deu espaço para o grupo interpretar “Tardei”, de Rodrigo Amarante e “Noite de Temporal”, de Dorival Caymmi, versões já reconhecidas no repertório da banda. Seguros, o sexteto demonstra uma nova faceta do que pode ser a Baleia em seu novo rosto e que mares ela pode, ainda mais, sempre em frente, navegar.
Um ano longe de casa, Cícero retorna ao Circo Voador fechando a noite que todos esperavam. Os primeiros acordes de “O bobo” indicavam que ninguém ia sair são de lá. Em seguida, “Pra animar o bar” e “Tempo de pipa” arrebatava com sua nova cara. A surpresa é que nessas três primeiras músicas, pela primeira vez, teve instrumentos de sopro formando corpo para as canções ao vivo. O show também era novo, Cícero já rodou o Brasil e Portugal e as canções ganham novas estruturas, novas introduções, mais experimentações. Uma forma de reinvenção para um músico que há mais de dez anos elabora discos que não se repetem.
Com um setlist de merecidas 20 músicas, o carioca percorreu bem seus últimos três trabalhos não deixando de fora “Fuga n1 da Rua Nestor”, “Capim-Limão” (que teve uns efeitos de pedais impressionantes no fim) e “De Passagem”, que no fim da canção, ao vivo, ganhou uma referencia a clássica “Pagode Russo”, de Luiz Gonzaga.
Falando em mais momentos, Cairê Rego, baixista da Baleia, assume o instrumento também na banda de Cícero. Já o guitarrista Felipe Pacheco comanda o violino nas faixas “Terminal Alvorada” e “A Praia”, nas quais ele também participa no disco do cantor de Santa Cruz.
Mais livre para experimentar, Cícero fez um show seguro e novo, se pondo firme num lugar, independente da geografia, que o faça permitir a sempre trazer novidades. Com apoio de seu público, Cícero está cada vez mais consolidado.
Fotos por Gabriella Ribeiro.
esse post me fez voltar na sexta feira :')