Créditos Junia Mortimer – Fora das Bordas
Belo Horizonte sempre foi conhecida como a capital dos botecos. Não importa o local em que você esteja, sempre terá um bar na esquina. Mas de uns três anos para cá, a cidade também passou a ser conhecida como a segunda casa da banda goiana Black Drawing Chalks. Presença garantida nos eventos de rock n`roll alternativo produzidos na cidade, não demorou muito para Victor Rocha (guitarra/vocal), Dennis de Castro (baixo), Douglas de Castro (bateria) – recentemente a banda lidou com a saída do guitarrista Renato Cunha, que foi substituído pelo eficiente Edimar Filho – virarem ídolos do público mineiro que admira e acompanha o circuito independente. Aliás, vale comentar que o público cativo desses eventos está mudando. Antigamente eram sempre as mesmas pessoas presentes nos shows, mas uma grande renovação está tomando conta das pistas mineiras, atraindo tribos diferentes para comparecer às apresentações, das chamadas “patricinhas” até uma galera que poderia muito bem ter confundido o Black Drawing Chalks com o Matanza. Uma mudança interessante e proveitosa para as bandas, que tem a oportunidade de levar seu som para círculos diferentes, mas que pode desagradar um pouco aos fãs mais antigos.
Para uma noite de sábado, não foi surpreendente enfrentar uma fila de mais de uma hora e meia, tempo que impediu boa parte das pessoas (eu incluso) de conferirem o show da banda Kingsizebox, responsável pela abertura da noite. Estava claro que o Studio Bar iria lotar e a promessa era de uma noite quente (bem no clima das Flaming Nights, organizadas pelo 53HC), tanto pelas atrações que subiriam ao palco quanto pelo calor humano. O evento contou com a produção do Coletivo Pegada, que atualmente é um dos grandes nomes do cenário mineiro e vem produzindo muitos eventos interessantes para a divulgação da cena da cidade.
Créditos Junia Mortimer – Fora das Bordas
Enquanto esperava pela próxima atração, os mineiros do Festenkois, o público se esbarrava nas filas para comprar bebidas e ouvia a seleção do DJ Tinhoso, que soube aproveitar a noite com inteligência e agradou ao público com “Should i Stay or Should i Go Now”, do The Clash, “Anarchy in the Uk”, do Sex Pistols. A mencionada mudança do público foi curiosa, pois é sempre interessante observar como a música une pessoas diferentes. Patricinhas cantando Sex Pistols é uma espécie de afrodisíaco surreal que fazem você sorrir concluindo que a música é capaz de oferecer as melhores viagens possíveis.
O Festenkois foi formado em 2008 e conta com Luiz Ramos (bateria), Patrícia Yegros (baixo/voz), Rafael Menezi (guitarra/voz) e Rafael Dantas (guitarra/voz). A banda lançou o seu primeiro disco em 2011 e pode agradar bastante ao público que gosta das bandas formadas nos anos 90 e especialmente o Sonic Youth, Smashing Pumpkins e Alice in Chains. A Noite Fora do Eixo continuou com uma apresentação bem intensa da banda. Destaque para o baixo estalado de Yegros, que funcionou na hora de atrair a atenção para as linhas recheadas de riffs e grooves com o baterista. Mais para o final da apresentação, a banda mostrou uma longa parte instrumental que já teria sido o suficiente para fazer valer o show inteiro. Excelente apresentação e mais um nome da talentosa safra mineira que merece ser observado com atenção.
Créditos Junia Mortimer – Fora das Bordas
Após a apresentação da Festenkois (para quem ficou curioso com o significado do nome, trata-se de uma referência ao movimento de cinema conhecido como Dogma 95 e uma ligação direta com longa-metragem Festen, de Thomas Vinterberg), as atenções estavam todas concentradas no palco, com as pessoas se espremendo o mais próximo possível para ver de perto a principal atração da noite. Além de marcar a estreia do novo guitarrista em apresentação na cidade, o Black Drawing Chalks também iria testar suas novas músicas. Quando a banda subiu ao palco, o caos parecia ter tomado conta do Studio Bar. Camisas começaram a voar pela casa, enquanto os mais empolgados começavam a abrir rodas e pular alegremente. Os seguranças até tentaram controlar o público, mas o vocalista logo disse ao microfone que estava tudo liberado. Os fãs deliraram e continuaram se animando aos sons das músicas antigas, como “Simmer Down”, “Precious Stone” e “Magic Travel”.
Rocha, mais carismático que de costume, se divertia brincando com o público do Studio Bar entre os intervalos das canções. Reclamou que o seu drink havia acabado e que cerveja era bebida de criança. Foram muitas piadas engraçadas, especialmente quando Douglas anunciou que a próxima música seria a última chance de algum cara chegar e pegar uma mulher. Se ele não conseguisse durante aquela música, podia desistir. Logo começaram “Cut Myself in Two“, uma das músicas inéditas da noite e deixou o público em dúvida sobre a ideia do que era sedução para o baterista, mas provavelmente deve ter feito algum sentido para alguns pares que se formaram ao redor da pista. Antes de tocar “Leaving Home”, Victor Rocha lembrou que o clipe da canção havia sido gravado durante a turnê feita ao lado do Hellbenders no ano passado, e que parte das cenas foram filmadas no próprio Studio Bar.
Créditos Junia Mortimer – Fora das Bordas
O Black Drawing Chalks é mais que “My Favorite Way”, mas a música é tão boa que fica difícil deixar de comentar sobre ela. “Don`t Take My Beer”, “I`m a Beast, I`m a Gun” e até a já mencionada “Leaving Home” são excelentes, mas não possuem a mesma força daquela faixa que abriu o caminho para a trajetória de sucesso da banda, embora as outras canções tenham força o suficiente para deixar até os fotógrafos dispostos a serem carregados pelos insanos que se divertem na pista e fazem os shows da BDC serem tão caóticos. Não é por acaso que “My Favorite Way” teve um dos coros mais altos da noite.
Do primeiro show que vi, durante o Festival Eletronika, em 2009, passando por uma apresentação durante uma Flaming Night de 2010, e chegando até a catarse pessoal de uma apresentação no mesmo Studio Bar, em julho do ano passado, conferi toda a evolução técnica da banda. A qualidade do show sempre foi indiscutível, todas as apresentações mexem com o público de uma maneira incrível, deixando os fãs extasiados em meio às rodas ou stage dive (que é parte obrigatória dos shows).
Créditos Junia Mortimer – Fora das Bordas
O Black Drawing Chalks é uma banda que combina perfeitamente a atitude rock n` roll, com quatro caras que estão vivendo da música, e melhor de tudo, conseguiram até mesmo criar uma forte imagem visual sem correr o risco de parecerem uns bundões. Ao mesmo tempo em que amadureciam suas músicas e ao contrário do que acontece com outras bandas que ganham elogios de “melhor show nacional do ano”, o BDC realmente conseguiu tornar suas apresentações ainda mais interessantes, aproveitando a base de fãs enlouquecidos e o belo repertório construído nos dois primeiros discos e que terá o gás do próximo cd, No Dust Stuck on You, que tem previsão de lançamento para maio. O novo trabalho incluirá participações especiais de Renato Cunha e Marco Bauer (ex-integrantes da banda), Fabricio Nobre (MQN), Thiago Ricco (Violins), Braz Torres (Hellbenders) e Chuck Hipolitho (ex-Forgotten Boys).
ps: agradecimento especial para o Donald, que foi muito gentil e me ajudou a formular o texto.
Porra! Que título é esse? Black Drawing Chalks e Outros? Não gostei, achei paia!
o problema não é ser paia. O problema é que é muita gente num título só e isso não rola, há um limite de caracteres.