Um trio de folk futurista que cria uma fusão entre o orgânico e o sintético num labirinto de voz, violão e beat. Poderíamos usar essa definição para sintetizar um pouco do trabalho da Tuyo, mas esse trio vai além. A qualidade criativa somada ao rigor das canções, mostra elegância, leveza e beleza. Entre elementos lo-fi e letras existenciais Lio, Lay e Jean dialogam ora com a poesia da América Latina, ora com a ferocidade irônica que a vida exige.
Para conhecer mais sobre os projetos, planos, processos criativos e referências desse trio, batemos um papo com eles. Lio, responsável direta pela entrevista, não deixa de falar sobre o desejo de pegar a estrada e sair em turnê. “Estamos sentindo o termômetro da internet e fazendo os cálculos pra sair de casa por nossa conta e risco. Peitar uma turnê independente é coisa pro nosso tipinho de gente, ou inconsequente ou virginiano. Como na Tuyo todo mundo tem um pouco de cada, não tem jeito, a gente vai. E se o Uruguai aceitar a gente, vamos muito – dá pra ir de carro, né? Você sabe que depois do Brasil o lugar em que mais se escuta a Tuyo nos streamings é a Austrália? De repente…”
Em uma conversa divertida e cheia de surpresas a Tuyo nos recebe no seio de seu trabalho com muito carinho. Revelam que adorariam que Mahmundi produzisse uma faixa deles e que Gui Sales fizesse parte da banda. Vale lembrar que esse ano eles lançaram disco. O álbum Pra Curar, sucessor do EP Pra Doer (2017), ainda não tem data de lançamento.
Tuyo – Pra Doer
Em 2016 vocês lançaram o Ep autointitulado Tuyo, em 2017 trouxeram os vídeos do “Ao vivo Em Casa” e o Ep, Pra Doer. Essa trajetória foi completamente planejada? Vocês pensaram em como queriam chegar ao público?
Eu podia aproveitar esse panorama aqui e dizer que, com certeza, a gente “anittou” o Tuyo e orquestrou essas coisas, mas a realidade é que uma sorte seguiu a outra.
O EP Tuyo de 2016 era uma desova de composições soltas, em desordem no SoundCloud da Lay. Ela quis organizar e, com a ajuda do Machadão, deu uma ajeitada e jogou na internet como um compilado concreto, parte de uma coisa só. Eu (Lio) vi que ia vingar e pedi pra entrar no projeto porque tava sentindo saudade de cantar. Nem sabia se ia rolar de fazer aquilo ao vivo, mas senti que podia ser uma coisa maior.
2017 foi fruto de plano, de processo. A gente foi transitando do mundo achatado da TV pra complexidade do universo real das bandas brasileiras assim, com o “Ao vivo Em Casa”, sempre com cuidado, entendendo o lugar que fica entre o que a gente quer fazer e o que faz sentido no mundo.
O Pra Doer foi planilhadíssimo. Sonhado e concebido com a ajuda das melhores pessoas possíveis. As tentativas de arranjo foram acompanhadas pelo nosso condomínio, que ficou bastante feliz quando a gente se mudou. Isso tudo antes de chegar na mão dos produtores que ajudaram a gente a texturizar os beats que a gente escuta em “Conselho do Bom Senso” e em “Amadurece e Apodrece”. Só gente fina.
Enfim, foram muitos processos, muitas pessoas envolvidas, muitas mãos, mas principalmente as nossas.
Os vídeos do “Ao Vivo Em Casa” foram construídos baseados nas principais referências de vocês, no mundo da música?
Outra oportunidade de enriquecer essa entrevista e dizer que realmente nos apoiamos em nossos ídolos, mas, na verdade, cada versão teve uma desculpa pra sair. “Calor do Amor” aconteceu porque a gente ama Marcela Vale e meu sonho é que ela produza uma canção nossa. “Calor do Amor” já tocou em casa pra caramba, um milhão de plays, aí em nome da amizade a gente fez e porque o arranjo ficou fofo. Foi num clima de férias na casa dos meus pais em Londrina, com amigos que amamos. A “Piscine Molitor”, do Gui Sales, veio na cabeça porque a gente quer forçar o Gui a voltar a cantar com vigor, fazer carreira, gravar disco e dar entrevista. O cara é talentoso, sincero. Estamos esperando, Gui! Volta com tudo! Daniel Caldeira tá na mesma situação que o Gui e a Tono a gente conheceu na voz da Alice em Rainha dos Raios, disco pro qual também dedicamos uma infinidade de plays.
Enfim, nada de ricas referências, tudo amizade ou tentativa de amizade. Acho que se a gente fosse fazer versão das nossas principais referências ia rolar alguma coisa de algum disco do Eddie Murphy, coisas de um sertanejo muito velho ou de um pop bem pop mesmo, bem moderno.
Tuyo – Ao Vivo em Casa “Calor do Amor”
Primeiro doer, depois curar. Esse é um caminho mais lógico e sensato pra vocês?
O caminho da lógica, da minha lógica é o reflexo de fugir do tapão na cara. Ninguém quer que doa. A sensatez é proteger, calcular o risco, medir a entrega de acordo com a circunstância. Mas a gente não se guia pela lógica. Vai no flow. E no flow a gente se apaixona, faz amizade pra vida, entrega a senha, conta o segredo, baixa a guarda. Pode ser que funcione, pode ser que não. E quando dá errado e a gente tá apegado, dói. Aí a gente vai buscar resolver. Talvez a lógica e a sensatez estejam só no Pra Curar, que é o mais frequente aí na estatística do pessoal que se machuca. É gostosa a dicotomia, a brincadeira da oposição ou da completude em duas ideias, dois lugares. Mas essa lógica, esses compartimentos, esses “dois lados” não existem.
Talvez a sacanagem dos EPs que compõem o disco esteja aí. A gente vende em compartimento, mas a experiência é menos cronológica e mais cíclica, embolada.
O som de vocês não é homogêneo, ele caminha entre diferentes texturas e explora tanto o sintético quanto o orgânico. O movimento de criar arranjos que, em versões acústicas ou de estúdio, ganham densidade e peso é algo que vem muito naturalmente? O que podemos esperar de Pra Curar?
Nessa equação artística tem muito elemento que vai além da concepção da obra. A Tuyo é composta por três indivíduos caciques, mandalhões, com referências que se encontram em alguns lugares e se afastam em outros. Então, talvez seja possível dizer que o sintético e o orgânico se revezam pra fazer os Tuyos todos igualmente satisfeitos com a obra. Dá também pra dizer que existem dois lugares de prazer estético que a gente visita. De um lado, a gente tem o sofrimento óbvio, democrático e acessível do sertanejo forte que a gente viveu em Londrina e, do outro, o consumo constante do gospel comprometido com bons baixos e R&B comendo solto.
Como surgiu a oportunidade de lançar dois vídeos em parceria com o canal canadense BNB Studios e o curitibano HAI studio?
Fomos procurados pela própria HAI pra conversar com o pessoal da BNB. As duas produtoras têm um relacionamento estreito que acabou resvalando na gente. Foi tudo super rápido, intenso, divertido. Passamos dois dias juntos, um ouvindo o outro, a gente desenferrujando o inglês pra travar as communications, dá um quentinho bom no coração observar o diâmetro de atuação da Tuyo se ampliando… O pessoal da BNB tem muito em comum com o pessoal da HAI, que é realmente ter muito tesão em música. É claro que são equipes fodas de audiovisual, os fritos do vídeo, da imagem, mas a conexão com a música é forte também, bem parecida com o que a gente sente quando escreve, quando toca. Aí talvez a feitura do registro em vídeo evidencie isso. Ficaram bonitas as cores, né? A gente é apaixonado nesses vídeos.
Em um dos vídeos vocês cantaram “Soledad”. Essa canção foi escrita na época da Simonami, certo? Dentro de Para Curar haverão outras canções daquela época? Como foi regravar essa música? Ela ganhou novos arranjos?
Isso. “Soledad” e “Candura” foram coletadas/sequestradas/pinçadas do repertório da Simonami pra integrar o nosso. Sim, os arranjos são novos e diferentes do que rola na Simonami. Elas acabam acompanhando a gente e eu acho que, se um dia formarmos outro grupo, é capaz de carregar outras composições com a gente. Seguimos escrevendo coisas, descobrindo novas maneiras de sofrer amores e a existência toda, mas alguns hinos seguem aí pra serem entoados.
Tuyo – Soledad
Quais os próximos passos do Tuyo? Tem mais surpresas vindo por aí?
O próximo passo é fazer o povo tirar os demônios do peito no show. A gente sabe o milagre que é poder chorar sozinho ouvindo um disco. Mas chorar coletivo é um fenômeno ainda maior, um lugar ainda mais poderoso e é em busca do poder de mover que a gente segue. Aí vamos circular, né? Não paramos de produzir conteúdo nem um minuto e tá tudo aí engatilhado pra sair, pra quem quiser acessar.
Para além dos shows empostados, finos e ricos a gente também bolou um bem bolado voz e violão, e a primeira versão vai acontecer dia 4 de março, aqui em Curitiba. É o sarau “Chorando Se Foi”. A gente vai abrir o microfone pra quem quiser cantar junto, a Lay vai comandar uma playlist bem chororô, aquele sarau brisado que a gente respeita.
Aliás, o spoiler exclusivo aí pra vocês é o seguinte: março tem surprise. Março é mês quente.
É cada vez maior o número de homens que enfrentam dificuldades nas relações sexuais.