A Música dos Seus Próximos Dias: Jan Felipe – Abril
Artista: Jan Felipe
Lançamento: 20/09/2011
Selo: Independente
Baixe: janfelipe.bandcamp.com
Rockometro: 9
Ouça: “Abril”, “Querques Souvenirs” e “Uma Tarde Inteira”
Lembro bem da primeira vez que ouvi as canções de Jan Felipe, a pouco mais de um ano. Roberto Pardal, líder da banda pernambucana Team.Radio (que também lançou álbum novo essa semana), estava num agitado papo comigo onde discutíamos a escassez de bandas no país com certos estilos, como o triphop. Não que o produto final de Jan possa ser colocado nesse nicho, porque com certeza passa por essa área, mas Jan consegue desenvolver sua música de uma forma diferente do que as batidas pesadas e tristes do gênero, misturando línguas e estilos no mesmo fone de ouvido. E que seu fone seja stereo, por favor.
Não sei como ele chegou nesse consenso final de seu estilo, talvez com influencia de sua antiga banda, a densa Brisa – que chegou até a emplacar a música “Quatro” na trilha do filme cult-simbolismo Apenas Uma Vez, quando a banda já tinha inclusive acabado – mas o que ouvimos é um som detalhado, diferente e que explica o porque dos 4 anos de gravação e composição do trabalho. Abril, o primeiro álbum do cantor franco-carioca contém 10 faixas autorais, cantadas em português, francês e inglês, e contém guitarras legitimamente rocks em cima de batidas e teclados clássicos do triphop. Essa deliciosa mistura mostrou seu resultado esta semana, quando a faixa de abertura, “Vive um Mundo Aqui”, finalmente veio a público para encerrar a saga de gravação do álbum.
Ouvindo toda a bolacha na ordem, é fácil encontrar explicações do porque canções demoraram cerca de 6 meses para serem compostas, arranjadas, gravadas e divulgadas: Jan aplica-se em entreter o ouvinte com novidades dentro das próprias músicas. Não há overdubs e cada transição, base ou refrão ganha elementos diferentes para que não haja repetição, vide “Our Last Surprise”, faixa que conta com vocais do francês Pery Sodré. Cheia de guitarras guia e riffs assobiáveis, a música rapidamente convida o ouvinte a cantar junto a frase “So Bad”, como numa música pop qualquer, mas executada sob uma base totalmente sombria e evocando um lado mais denso de nossos corações.
A faixa título e dona do primeiro clipe, “Abril”, apresenta um duelo de violões e vozes belíssimo, onde o sentimento da música é reconhecido desde o primeiro acorde até o último suspiro da convidada Mariana Albuquerque. Mais interessante é pensar que essa qualidade sonora de gravação vem do quarto de Jan, local que virou estúdio e vem sendo o cenário para suas canções. Jan produz, grava, arranja, programa, compõe e toca todos os instrumentos do álbum. Sua voz doce e os sensíveis apelos pop das canções surpreendem ainda mais. “Uma Tarde Inteira” e “Essa Demora” descrevem bem o lado mais acessível do álbum, menos densos e mais animados, inclusive, causando a surpresa – que tanto parece ser o elemento sonoro principal do trabalho do músico.
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A canção de encerramento, “Assim Como”, é talvez uma das melhores músicas do álbum, apesar de sua versão em francês – um eterno b-side que poucos conheceram – ser ainda mais cativante, fazendo par com a irmã “Querques Souvenirs”, definida facilmente como uma canção definitiva e apaixonante. Ouvir este disco inteiro é como um filme cult triste, regado a sensualidade, algum suspense ou desespero e cenas em slowmotion. Rapidamente você entende onde as músicas querem te tocar e o sentimento rapidamente te consome. A música de Jan não faz parte da trilha sonora que acompanha o mocinho.
Hoje ficará difícil alguém conseguir assistir shows da banda de Jan Felipe. A França o chamou de volta no meio deste ano e poucos shows nas terras cariocas aconteceram. Quem viu, viu. A música continuou. Do quarto dele para o seu quarto, para o seu fone, para o seu dia. Quem sabe onde mais essa música se encaixa? É tão bom ver que nem um oceano nos afasta da boa música, que nasceu no Brasil, mas com gosto de universal e com todo sentimento.