A principal diferença entre o MADA e o seu compadre DoSol é o foco do público: enquanto o vizinho da Ribeira é abertamente trabalhado com a cena independente, com foco principal na do Rio Grande do Norte, o MADA não trata com o mesmo destaque e responsabilidade os artistas locais, buscando um empreendimento onde grandes artistas sejam o pilar da noite mesmo que eles estejam aquém de outras bandas no lineup.
Talvez seja por isso que, ao adentrar um camarim de uma banda, a resposta da pergunta “Está gostando do festival?” tenha sido “Não. Eles não dão o menor respeito e moral para as bandas da cidade”. A total falta de antena da curadoria do festival com os artistas que convida da cidade fica explícita pela repetição de nomes como Far From Alaska e Plutão Já Foi Planeta ano a ano, valorização de artistas que já não rendem mais da mesma forma, e o fato de colocar artistas com público e em ascensão como o Jubarte Ataca (que tocou para 10 pessoas na abertura da noite) e Luisa e os Alquimistas (que sofreu com a desorganização da entrada) para perderem uma oportunidade melhor dentro da divulgação de sua música.
Mada 2016: Estrutura
A desorganização foi, alias, a tônica do festival. Com um jogo da Seleção Brasileira de Futebol agendado para o dia 6 de outubro, a FIFA exigiu que o gramado não sofresse avarias e retirou o evento da área interna. Através de uma mobilização ultra rápida, a produção do MADA conseguiu liberação com o Ministério Público, Bombeiros e vários órgãos competentes para levarem a estrutura completa para o estacionamento da Arena das Dunas, local original do evento. Não houve alteração ou modificação, somente foi levada a estrutura pensada para 3500 pessoas para uma área de 10 mil, com mais ingressos sendo vendidos e nenhum aumento na estrutura. O resultado foram filas imensas para entrar no estádio (o público só conseguiu entrar por completo no antepenúltimo show do sábado), para ir no caixa, para pegar bebida e para ir no banheiro, virando uma grande dor de cabeça fazer qualquer coisa básica a qualquer momento.
A falta de lixeiras (só as da prefeitura coladas nos postes e lotadas desde o início da noite), seguranças apenas para proteger os artistas e patrimônio (os relatos de roubos dentro da área são alarmantes) e um número absurdo de pessoas com camisa de produção desfilando com amigos, namorada e em cima do palco assistindo show da Karol Conká deixam claro os erros de organização do festival, sem contar os problemas internos com passagens e estrutura de imprensa.
Ainda no segundo dia, finalmente apareceram monitores de led na Rockstage, mas a exibição de imagens em tela não aconteceu. A área ‘vip’ da Rockstage em frente ao palco no primeiro dia era tão minúscula que logo ficou abarrotada e intransitável, fazendo com a produção quadruplicasse ela no dia seguinte, o que provocou diminuição de proximidade do público maior com os artistas. O minúsculo telão e sua única câmera só ajudaram quem estava perto dele para assistir.
Fica clara a falta de foco na experiência da audiência dentro do evento. A passagem rápida entre os shows pontuais, a falta de conversa ou divulgação de ações que envolvessem artistas, nomes respeitados, distrações diferentes, interações com marcas e intervenções fazem do evento uma mera visão de show pontual, o que ocasionou, por exemplo, o público buscar chegar tarde só para ver seu artista favorito e não aproveitar o dia do evento. Tudo parecia efêmero e passageiro.
Mada 2016: Lineup
Artisticamente falando, o evento foi regular. Os artistas mais cantados do MADA estavam todos alinhados no sábado. A exceção do Liniker, nenhum dos artistas da parte de cima do lineup lançou disco novo este ano. A tentativa de divisão de bandas para dividir público em dois dias acabou privilegiando o sábado, e também escancarou escolhas desastrosas como a Dona Cislene e seu Foo Fighters imitado até nos gritos e estilos de riffs.
As grandes surpresas ficaram com os shows de André Prando (revelação do festival) e Jaloo (que amadureceu sua apresentação com o tempo de estrada). Far From Alaska e Plutão Já Foi Planeta, que há tempos não tocavam em sua cidade natal, mostraram que estão ainda mais alinhados e poderosos ao vivo, encabeçando a liderança do cenário potiguar e o apoio maciço do público. A Time de Patrão perdeu muito tempo discutindo uma acusação que um dos integrantes sofreu e acabou perdendo muito tempo no seu show. Luiz Gadelha desenhou sua carreira de forma mais segura, enquanto que Luisa e os Alquimistas mostraram que ainda falta rodar pelo país para ganhar um pouco mais de experiência.
Emicida levou um show cheio de mensagens para um público semelhante ao que ele critica, sendo assim mesmo ovacionado e mostrando que a sua palavra não está causando questionamento e sim sua auto-promoção. Show bom, porém cansativo, além de panfletário de seus próprios clientes, como o Rael.
Dois momentos chamaram atenção nos shows também. Os intensos e espontâneos gritos de #ForaTemer pareciam o hino ‘ôuouô” do Rock in Rio no MADA. Além disso, a grande quantidade de covers apresentados por pequenos e grandes artistas surpreenderam. A Dona Cislene apostou em Charlie Brown Jr e o Natiruts lançou versões de Cidade Negra e Gilberto Gil.
Já o Planet Hemp passeou entre Ratos de Porão até Chico Science e a Nação Zumbi, citando ainda Kraftwerk e artistas da cena independente carioca desde os anos 90 – tema da aula que os professores BNegão e Marcelo D2 dão durante a sua impressionante apresentação.
Liniker e os Caramelows foi sublime. Liniker tinha cancelado sua participação especial no show da Plutão Já Foi Planeta por cansaço, mas mostrou uma energia impressionante a frente de uma banda com metais, percussões e groove absurdo, se tornando um ser superior para o grupo de fãs que cantavam com força suas canções – algumas recém lançadas em seu disco Remonta.
Karol Conká deu dois shows. No palco, ela não precisa de banda, dançarinos ou nada. Só ela e o DJ balançavam o público com refrães fáceis, graves bem definidos e mensagens que ultrapassam o auto-ajuda para o empoderamento. No outro show, fechou o camarim, colocou um segurança de hostess e música alta, fazendo sua área privada uma balada para compartilhar com amigos, convidados e outros artistas, com luz neon e tudo!
Mada 2016: Resultado
Preços de comida honestos, variedades no cardápio, lojinhas bem organizadas e excelente qualidade no som foram os grandes destaques do evento, mas não salvam o registro. Apesar do clássico slogan “música alimento da alma”, não é só de música que vive um festival e em seus 18 anos de vida, erros crassos e a falta de dar uma experiência para o público fazem parecer que o MADA tem mais nome do que resultado.
[O RockinPress viajou e se hospedou em Natal a convite da produção do festival para cobrir o evento. Fotos por Josué Veloso. Agradecimentos ao Brasileiríssimos.]