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Apesar dos Pesares, Ainda Temos a Mallu

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Foto por Bruno Fernandes/ Folha imagem

Mallu Magalhães aprendeu fazendo, na marra, que a carreira profissional como musicista pode ser cruel. A imaturidade demonstrada diante de jornalistas experientes e prontos para pegarem a menina em situações desconfortáveis ou a postura errônea diante das câmeras em programas de TV como “Altas Horas” e “Domingão do Faustão” foram suficientes para apresentar à Mallu o fato de que o público brasileiro é bipolar. Gosta tão rápido de uma banda quanto esquece dela – ou a repudia. A virada do mercado e seus novos modelos assustaram a produtores e empresários desprevenidos, especialmente àquele público que prefere que seu artista se mantenha underground a ser conhecido demais pelo grande público.

Nem nós, nem a produtora e nem a própria Mallu Magalhães estavam preparados para o boom desnorteante que sua música deu. Aquela doce voz lotava casas de pequeno e até médio porte com menininhas histéricas cantando músicas praticamente inéditas até o lançamento do primeiro álbum – que se revelou uma vazia coleção de canções gravadas quase às pressas para aproveitar todo o barulho que era feito. A partir daí, e do namoro com o hermano Marcelo Camelo, seu público se dividiu e sua popularidade caiu vertiginosamente, como uma mágica que começa a perder a graça. A chegada do segundo álbum também não solucionou muitos problemas: o disco é belo e bem produzido, mas carente de singles convincentes – ao menos explanava uma vibrante melhora na sonoridade e nas composições, visando o futuro e novos caminhos.

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“Sur Mon Coeur”

Há algum tempo, tenho notado movimentação maior em cima do nome da pequena infanta. Esse novo contato com o público se deu apenas após a sua produtora Agência de Música entender que não é simplesmente investir na imagem dela para o grande público – sem prepará-la – e esquecer de onde ela veio: o mundão da internet. O clipe de “Sur Mon Coeur”, e suas já quase 20 mil visualizações, é a prova que ainda existe aceitação do público e crítica e novos caminhos podem ser traçados. Afinal, Mallu não é mais aquela pequena guria de 15 anos que, apesar de se apresentar como cantora, não conseguia sustentar sua voz numa participação especial ou que não sabia se portar na frente de um grande apresentador.

Atualmente, essa ‘reconquista’ de público tem tido seus altos e baixos momentos. A triste participação dela no show do Móveis Coloniais de Acaju talvez tenha sido o momento em que soube-se que o caminho tinha que ser melhor planejado e não deveria colocá-la em toda a oportunidade grande que aparecia – fato que ocasionou, por exemplo, o vexame da entrevista pseudo-intelectual na Época, em Novembro de 2008. Mesma época em que a menina-moça, agora mulher, começou a namorar com Marcelo.

Somados os fatos e adicionando a desinformação da mídia em geral ao transmitir de forma tendenciosa a vitória de Mallu Magalhães junto a Lei Rouanet (onde muitos acharam que ela receberia 780 mil reais do governo para uma turnê, quando na verdade dependia de uma empresa privada que a patrocinasse e lhe desse esse dinheiro – o que nunca ocorreu) sua imagem ficou um tanto embaçada com o público e o ano de 2010 acabou-se baseando, principalmente no segundo semestre, a shows em SESCs e em casas de pequeno porte.

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Música “?”, originalmente chamada “Tchubaruba”, da banda Canastra Suja, que segundo a produção de Mallu Magalhães se tratou de um plágio de uma canção de mesmo nome da cantora. (veja mais)

Mas na sua retomada, Mallu acordou e trocou de personagem. Largou a máscara de infantil e roupa de pseudo-intelectual para se vestir de uma pessoa simples, de opiniões mais diretas e focadas, abraçando a sua segunda chance nos ouvidos brasileiros. Parou de pintar seu rosto como uma menina e passou a ser destaque em revista de moda, marcando presença e grandes eventos e chamando atenção pela forma mais definida que seu corpo tomou.

A convivência com o Hermano Camelo também tem feito bem à Mallu. Passa a impressão que Camelo expandiu o universo da guria, a colocou em contato com novas influências, a apresentou à beleza complexa das composições em português e ajudou Mallu nesta fase de reestruturação, em que a jovem cantora e compositora assume sua brasilidade e aproveita para mostrar-se a outros públicos, de outros grupos, seja numa pose sensual e uma entrevista na Playboy (um mês após completar 18 anos), seja cantando Chico Buarque, Toquinho no Som Brasil ou Billie Holliday; seja participando do show da Nina Becker, ou cantando com seu namorado Marcelo Camelo; seja cantando com uma banda espanhola ou gravando Roberto Carlos para a trilha sonoro de filme.

As decisões que virão a seguir, da sua equipe de produção (Agência de Música) e das pessoas que a rodeiam e a ajudam profissionalmente (o amigo Mané, que a descobriu e a ajudou no início da carreira, voltou a trabalhar com ela recentemente) serão fundamentais para definir se Mallu Magalhães foi uma moda passageira ou veio, de vez, para ficar, se firmando como um dos nomes mais talentosos da geração recente da música brasileira.


Foto que essa semana apareceu  no Trabalho Sujo, que causou barulho por parecer ter um rosto dentro da bolsa, que na verdade são da capa do livro Dorival Caymmi, de Francisco Bosco.

Por isso, talvez não seja a hora certa de ouvirmos um Mallu Magalhães III e ver a mesma exposição forçada dos últimos anos. É hora de pensar melhor o caminho, de desenhar novas metas, de deixar Mallu descobrir a sua identidade como artista – uma vez que, até mesmo pela sua idade, ela está na fase de absorver influências e ver o que, dali, combina mais com ela –, de aproveitar que a banda já tem novos integrantes (Kadu Abecassis, guitarrista, saiu da banda e entrou Davi Bernardo, do Trio Skuba) e novo produtor (Xeco, produtor desde 2008, deixou o projeto) e tentar refazer aos poucos toda a visão que Mallu teve há anos atrás e toda a forma pela qual ela é vista por muita gente atualmente.

Se você achou que “Sur Mon Coeur” pode ser a chance de reencontro seu com o som de Mallu Magalhães, ouça “Me Leva“, “Daniel e Cecília” e tantas outras que pouco foram ouvidas e sequer foram lançadas oficialmente, mas que são belas peças de um quebra-cabeça infantil que se tornou grande o bastante para ultrapassar a internet e chegar a tantos pontos do Brasil, Canadá, Portugal e Espanha.

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Texto por Marcos Xi e Ana Kamila
Colaboração: Cora de Alvarenga

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Músico multi-instrumentista, DJ, viajante, criador e editor-chefe do site RockinPress, colunista e curador convidado do Showlivre, ex-colunista do portal de vendas online Submarino e faz/fez matérias especiais para vários grandes meios culturais brasileiros, incluindo NME, SWU, Noize, Scream & Yell, youPIX e os maiores blogs musicais do país. É especializado em profissionalização de artistas independentes e divulgação de material através da agência Cultiva, sendo inclusive debatedor em mesas técnicas sobre o assunto na Universidade Federal Fluminense (RJ) e no Festival Transborda (MG).

12 COMENTÁRIOS

  1. Faltou citar um triste fato acontecido aqui em Porto Alegre.
    Um amigo meu quem contou, que foi ver um Festival de Bandas, no Porão do Beco. A atração principal ao final do festival era um Show da Mallu. Mas acontece que ela subiu ao palco e tocou mal e mal 3 músicas e mandou a produção a merda, e que da próxima vez arranjassem um som melhor e foi embora. Acho que isso não é postura para uma guria que está tentando amadurecer no cenário musical. Tendo esse tipo de atitude ela só continua queimando seu filme.
    Eu tinha certa simpatia pelo trabalho dela, mas depois dessa minha visão sobre ela mudou bruscamente.
    Se ela tentar se redimir dessa atitude, posso até voltar atrás. Mas se ela continuar com esse pensamento de estrelinha vai se ferrar feio.
    Só deixo um recado pra ela, Humildade é um quesito importante na carreira artística, a menos que ela seja punk é claro.

  2. A Mallu tem tanto talento e tanto ainda a mostrar que eu gosto muito dessa ideia de uma segunda chance. Ela merece!

    Para ver mesmo a sua carreira se firmando, é vital que a Mallu não só mantenha a base de fãs que a acompanha desde o boom de seu início de carreira, como também conquiste um novo público – que é justamente o que ela tenta fazer ao se apresentar desta forma mais madura, como intérprete de grandes artistas, fazendo shows para plateias que são “virgens” ao que ela produz. O caminho é esse e a Mallu tem talento e carisma para se firmar como a grande promessa que ela é.

    Obrigada pelos créditos. Você foi muito generoso, mas acho que, neste texto aí, tem mais marcas suas do que minhas! 🙂

  3. Acompanho o trabalho de vcs a algum tempo, e tenho que dizer que mandam muito bem. Nunca havia comentado sobre alguma matéria antes. Na minha opinião, o cenário musical brasileiro tem muitas coisas melhores a serem apresentadas do que mallu. Sua imaturidade musical ainda é fato. Seu rostinho bonito também é fato. Colocá-la num altar faz com que muitas outras bandas ou músicos melhores, fiquem abaixo dela. Simplesmente um erro. Acho que a música é só um pretexto para noticiá-la.

  4. Helene, essa situação aí não é bem assim como te descreveram não. Tinha uma equipe do RockinPress lá, credenciada (nós eramos insiders do SWU, organizador do tal festival), e Mallu tocou 8 músicas, deixando faltar 2 músicas para seu repertório acabar quando decidiu encerrar o show porque o som estava ruim. Nesse show realmente ela vacilou, pois o técnico de som era dela, teve 3 horas de passagem de som e ela exigiu uma mesa de som digital exclusiva para poder se apresentar na casa, apesar dos outros equipamentos serem alugados, mas que funcionaram bem com as outras bandas. Lá ela cantou para dentro, com medo e na saída do palco, foi recebida a gritos, xingamentos e ameaças pelo dono da casa que, esse sim, não respeitou a artista. Ao passo que se você não consegue mostrar seu trabalho corretamente para um público, também concordo que se for mostra-lo campenga, com pouca qualidade, deve-se suspender a apresentação. Mas ela se portou mal e o próprio dono pior, mas essa parte ninguém ficou sabendo.

    Ka, o texto é nosso e ponto. hahahaah

    Victor, muito obrigado por nos acompanhar. Apesar de tudo, acho exatamente ao contrário de você: Acho a maturidade musical dela crescente e que ela NÃO É um rostinho bonito. Além de tudo, Carla Bruni é chato demais! hahah

  5. Não concordo no texto quando dizem q a Mallu era um personagem. Eu não acho q ela abandonou nenhum personagem q ela criou, acredito q tenha amadurecido, como todos nós amadurecemos com o tempo. Tenho 33 anos, estou terminando um doutorado tenho alguns artigos publicados e já li e ouvi muito na minha vida. Digo apenas q os brasileiros é q não sabem admirar o trabalho ímpar e muito original dessa moça. Bom saber q a Mallu está caminhando para uma linha romântica pq no Brasil é difícil demais fazer sucesso cantando Blues e outros estilos não breganejos, mas o romântico sempre tem espaço… Eu e ela talvez tenhamos nascido no lugar errado. Torço pra q ela continue, e o pouco de bom q ainda resta de música original no Brasil não acabe.

  6. Gosto muito do trabalho da Mallu e também NÃO concordo com o Victor, o rapaz acima que afirmou ser ela apenas um rostinho bonito.
    Definitivamente, não ouvi nada tão bonito, nem tão instigante, inspirador, na música brasileira nos últimos anos como seu segundo álbum.É uma jóia rara, repleto de belas canções e arranjos caprichados e se o grande público não o curtiu muito é em grande parte por falta de divulgação – pô, músicas como “Te acho tão bonito” e “É você que tem” mereceriam ser tema de filme ou novela muito mais que uma simples regravação de Roberto Carlos.
    O público brasileiro já curtiu, já amou artistas maravilhosos, e se o gosto popular brazuca está lamentável hoje em dia, é por que existe um interesse da grande mídia em propagar lixo,por quê, não sei, porém não resta dúvida. Citando o poeta, “quem é paga, pra gente ficar assim? ”
    Achei uma pena que o Kadu Abecassis tenha saído da banda, é um ótimo guitarrista, tem uma presença de palco maravilhosa e é um cara muito bacana- o conheci pessoalmente em um show, em Três Pontas-MG. Espero que quem for substituí-lo esteja à altura.
    Tomara que a Mallu supere essa fase de transição brilhando e que seu próximo álbum, quando vier, cale a boca de muita gente, com muita qualidade, e tomara, sucesso. Mallu e a música brasileira merecem.

  7. Só corrigindo a citação: “Quem é QUE paga pra gente ficar assim?”

  8. A personagem Malu Magalhães se baseia na exposição, muito bem construída, do estereótipo na ninfeta sedutora, de voz acentuadamente afrancesada, cuja sensualidade se alicerça numa postura infantil e ridícula que, pela falta absoluta de talento, não conseguiu se firmar no cenário da real música popular brasileira. Malusinha Ninfetinha é apenas um roteiro mal elaborado pra encantar os solitários, carentes de uma experiência sexual efetiva e libertadora. Ainda bem que essa “menininha” já deu o que tinha dar, se é que tinha alguma coisa.

  9. “Malusinha Ninfetinha é apenas um roteiro mal elaborado pra encantar os solitários, carentes de uma experiência sexual efetiva e libertadora.”

    meu deus…

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