Sabe o que é muito engraçado? Nessa brincadeira toda de Cícero mostra música nova em Portugal – só em Portugal -, eu percebi que nunca opinei oficialmente sobre os discos dele, mesmo tendo passado três anos intensos trabalhando no projeto.
Quando eu ouvi pela primeira vez, na finada redação do Portal MTV, foi amor à primeira vista. O “Canções de Apartamento” virou trilha obrigatória para todas minhas manhãs, enquanto eu separava as notícias que daria no site da TV.
Até hoje, não decorei os nomes de todas as músicas. Mas desenvolvi uma relação íntima e intensa com este álbum, que se tornou então meu objeto de trabalho – fosse em divulgação, fosse fechando shows, fosse produzindo. A gente caiu na estrada tantas e tantas vezes ao som das microfonias propositais do Ricardo Gameiro contrastadas com as cordas delicadas do próprio Cícero, sempre tímido, levantando coros por qualquer cidade que passasse.
Quando essa loucura evoluiu, veio “Sábado”, em 2013. O cantor e seu fiel escudeiro – Bruninho Schulz – desligaram-se do mundo e foram se afundar nas novas experiências e poesias que o disco trazia, nos interiores do Rio de Janeiro. Minha primeira vez com “Sábado” foi como estar com o homem que você vai amar um dia. De cara, a falta de intimidade causa estranheza. Em seguida, você começa a perceber as nuances discretas dele mesmo naquele ato. Em seguida, você o vê totalmente despido, à luz do dia, e sente como se fosse o que você quer para sempre.
As pessoas falaram mal. Principalmente porque ele rompia com tudo aquilo que havia sido o primeiro trabalho. Mas se era tão horrível como diziam, por que eu não conseguia parar de ouvir “Ela e a Lata” ou “Frevo Por Acaso”? E por que aquilo não parava de trazer as cenas mais lindas à minha mente? Era mais experimental: menos pop, menos letra, mais intenções – todas tão bem arranjadas. Produzido em parceria ainda com Bruno Giorgi e com participações ilustres de Marcelo Camelo, Mahmundi, Luiza Mayall e Silva.
Achei triste a falta de sensibilidade das pessoas. Mas foi aí que veio o show de lançamento. Cheio, como sempre. Muito cheio. E para aquelas pessoas que estavam no público – e só se multiplicaram desde a primeira turnê – pouco importava o que saiu nos jornais. Elas estavam ali por inteiro, cantando cada uma das estrofes – A,B e C. Chorei. Óbvio.
Vivemos um momento onde tudo passa a ser importante: o como, o onde, o quanto, o quem, a foto feliz no Facebook. Mas é quando uma canção consegue tocar seu íntimo, quando ela consegue emocionar, quando ela não está no Faustão, mas está na boca de muitas pessoas… É nesse momento que se dá missão cumprida.
Uma vez, Cícero me disse que, quando você compõe uma música e a faz pública, você perde total controle sobre a significação dela. Naquele momento, ela será uma coisa para cada pessoa e passa a não pertencer mais ao compositor. É isso! Ouça e as faça tão suas quanto são minhas. Basta clicar aqui. 🙂
E que venham as novas!
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"Minha primeira vez com 'Sábado' foi como estar com o homem que você vai amar um dia. De cara, a falta de intimidade causa estranheza. Em seguida, você começa a perceber as nuances discretas dele mesmo naquele ato. Em seguida, você o vê totalmente despido, à luz do dia, e sente como se fosse o que você quer para sempre."
Adorei isso. Eu achei bonito logo na primeira audição, mas de uma beleza estranha. Foi fazendo sentido pouco a pouco e hoje em dia já percebo o que não percebi nas primeiras audições (curioso que "Ela e a Lata" e "Frevo Por Acaso" foram as que bateram primeiro também, junto de "Capim-Limão"). Ainda encaro como um álbum de transição, que aponta caminhos entre erros e acertos, mas que não justifica a reação agressiva que gerou.